A taxa de adoção de 5G será suficiente para satisfazer as operadoras?

São Paulo 3/1/2020 –

A comunidade global de operadores está investindo grandes somas de dinheiro na construção de redes 5G, e o consenso é que três casos de uso principais – examinados neste conteúdo – dominarão a demanda por maior velocidade, capacidade e latência 5G prometidas. Mas, embora a conectividade sem fio da próxima geração tenha uma enorme repercussão, a adoção será mais lenta do que a maioria das operadoras esperaria.

A GlobalData anunciou recentemente que haverá 1,5 bilhão de usuários de 5G até 2024. Isso é menos de um terço dos 4,7 bilhões de usuários de 4G atualmente. Isso não é uma crítica às operadoras, apenas mostra quanto tempo leva para adotar uma nova tecnologia – especialmente porque a 4G está realizando um excelente trabalho ao fornecer conectividade de banda larga móvel, ao contrário de seu antecessor 3G.

Mas será que essa taxa de adoção é suficiente para satisfazer (sob o aspecto de ROI- Retorno sobre o Investimento) as operadoras? Provavelmente não. Será que elas terão que inovar para acelerar o aumento da receita de novos serviços? Sim, certamente. As operadoras têm certeza de quais serviços gerarão mais demanda? Na verdade, não. Essa incerteza adiciona um elemento de risco ao mantra tradicional “construa e eles chegarão” à adoção da nova tecnologia móvel.

Colhendo o ROI

Os três principais casos de uso 5G são: banda larga móvel aprimorada (eMBB), comunicações ultra confiáveis ​​de baixa latência (URLLC) e comunicações massivas do tipo máquina (MTC). O eMBB está definido para oferecer velocidades mais altas aos usuários móveis, possibilitando novos serviços, como vídeo em 4K e jogos online. O URLLC permitirá novas aplicações dependentes de aplicações ultra confiáveis ​​de baixa latência, como carros conectados, por exemplo. Por fim, o MTC abrirá caminho para aplicações de cidades inteligentes, coisas conectadas e a IoT.

Embora esses casos de uso estejam prontos para gerar novos serviços e receita, o URLLC e as comunicações massivas do tipo máquina terão um impacto maior no ROI das operadoras do que o eMBB. Isso ocorre porque o eMBB, incluindo o acesso sem fio fixo (FWA), pode ser entregue em um ambiente 5G não independente, o que significa que pode retornar ao núcleo 4G. Por outro lado, o URLLC e o MTC exigirão um núcleo 5G, que ainda está demorado e, portanto, pode não gerar receita imediata. No entanto, o URLLC e o MTC devem revolucionar o modelo de negócios de telecomunicações tradicionais. No centro disso estará a empresa – um mercado preparado para o sucesso das operadoras, mas somente se elas puderem alavancar e monetizar o “fatiamento” ou divisão da rede.

A divisão de rede permite que várias redes virtuais sejam criadas sobre uma infraestrutura física compartilhada. Usando o fatiamento de rede, as operadoras podem configurar fatias individuais para diferentes aplicações – desde jogos e realidade virtual, até carros conectados e fábricas inteligentes. Os contratos de SLA (Service Level Agreement ou Nível de Acordo do Serviço) podem ser feitos por fatia para garantir que cada requisito de serviço ou aplicação seja atendido. De fato, é essa capacidade de entregar alta qualidade de serviço (QoS) para atender às necessidades específicas de aplicações e serviços que poderiam ser a arma mais poderosa dos operadoras na corrida de monetização 5G.

As operadoras há muito lutam para garantir a QoS da rede e, embora diferentes ferramentas tenham sido usadas em 3G e 4G para entender o comportamento da rede, padrões e identificar falhas. A  QoS em toda a rede começa a ser garantida para todas as aplicações. A fatia de rede está mudando, pois as operadoras poderão fornecer maior flexibilidade, otimizando a eficiência e a alocação de recursos na infraestrutura de rede. As redes passarão de uma abordagem “tamanho único” para um modelo mais personalizado.

Para as empresas, o fatiamento de rede apresenta uma nova oportunidade para receber e aproveitar a conectividade em nível SLA, de acordo com as necessidades individuais da empresa. O 5G verá a proliferação de dados como nunca antes. Isso colocará uma enorme pressão sobre as redes e aquelas empresas dependentes de serviços URLLC ou MTC.

Vale destacar a fábrica inteligente do futuro como exemplo; cada máquina ou ferramenta deve permanecer conectada o tempo todo para garantir a transferência correta de dados de máquina para máquina. Nesse cenário, atrasos ou interrupções da rede podem afetar o restante da linha de produção e, em seguida, o restante da cadeia de suprimentos, levando a potenciais perdas de lucro significativas.

As empresas não podem se dar ao luxo de recuar e aceitar conectividade medíocre. Em vez disso, elas buscarão as operadoras para fornecer redes virtuais com desempenho garantido exclusivamente para empresas. É claro que isso terá um prêmio, mas as empresas não terão escolha a não ser fazer o investimento.

A oportunidade da empresa está lá, mas as operadoras devem ter as ferramentas corretas para garantir que possam transformar a oportunidade em receita. As oportunidades de amanhã não podem ser aproveitadas com as ferramentas de ontem.

As operadoras devem, portanto, repensar suas ferramentas de monetização – as atualizações para sistemas legados simplesmente não serão suficientes. Elas devem pensar sobre o que precisam, quais recursos de faturamento desejam apoiar – fatiar, ou talvez, fatiar de forma híbrida. Elas devem pensar em como os sistemas de cobrança existentes serão afetados e quais recursos esses sistemas precisam para existir e evoluir em um futuro 5G.

Uma abordagem “tamanho único” simplesmente não funcionará mais, especialmente à medida que os princípios de fatiamento de rede evoluírem e à medida que há um avanço rumo ao 5G. Ter flexibilidade e agilidade para reagir às demandas do mercado – tanto corporativa quanto de consumidor – ajudará a separar os líderes digitais dos demais na corrida para o ROI de 5G.

 

(*) Por Antônio Júnior, diretor de Vendas e Marketing da Openet Brasil

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