Arie Halpern: tecnologia na terceira idade — serviços digitais esbarram em designs pouco amigáveis

17/2/2020 – As revoluções tecnológicas têm trazido a cada nova rodada mais qualidade de vida, possibilidades de escolha e oportunidades para todos.

Com uma população idosa cada vez maior, desenvolvedores e gestores devem ficar atentos às necessidades desse público e trabalhar para facilitar a interação com as novas tecnologias.

É surpreendente a habilidade de crianças, mesmo as bem pequenas, para lidar com o mundo digital. “Parece que hoje em dias elas já nascem sabendo”, costumam repetir os adultos, perplexos. A tendência é que o espanto seja mais visível naqueles que tiveram sua formação intelectual ainda na era analógica, e são assim “migrantes” nas tecnologias que se disseminaram de maneira efetiva na virada do milênio. É possível aprender a utilizá-las na idade adulta e na maturidade, e se sair bem nas tarefas. Mas a neurociência sabe hoje com muita segurança que nos primeiros anos de vida, quando as informações ainda não foram consolidadas, o cérebro tem uma capacidade adaptativa muito mais acentuada – essa elasticidade neurológica se reduz ao longo do tempo.

Nesse cenário de revoluções tecnológicas subsequentes, imprevisíveis e profundas, pessoas maduras enfrentam mais dificuldades. Os idosos muitas vezes se veem na situação de ter que pedir ajuda a filhos (e principalmente a netos) para lidar com tarefas que são importantes para o cotidiano, e que – quando se tornam mais sofisticadas – acabam saindo de controle, gerando ansiedade e decepção. Um caso típico é o acesso à informação e ao entretenimento audiovisual: há duas décadas bastava ligar um aparelho de TV e girar um seletor manual até a escolha de um dos seis ou sete canais possíveis. A quantidade de opções e a qualidade daquilo que pode ser visto melhorou imensamente de lá para cá, mas a busca digital, que é comum para os mais jovens, tornou a vida de muitos idosos mais difícil.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões até 2050, o que vai representar cerca de um quinto da população do planeta. Já no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde, a população idosa vai superar o número de jovens de até 14 anos já em 2030. Esse público hoje representa um dos maiores mercados consumidores segmentados do País, tendo uma movimentação de mais de R$ 1,6 trilhão por ano. E muitas empresas estão pensando estrategicamente em como atender melhor a esse público.

As revoluções tecnológicas têm trazido a cada nova rodada mais qualidade de vida, possibilidades de escolha e oportunidades para todos. Isso inclui a população das faixas etárias superiores. No entanto, gestores públicos e privados, academia e consultorias devem sempre se manter atentos a suas necessidades. As interfaces amigáveis, o design simples de equipamentos e a escolha de cores e fontes que facilitem a visualização são alguns exemplos de medidas simples, que contribuem para uma experiência mais satisfatória nessa faixa etária.

Um erro comum a ser evitado é a difusão de produtos e serviços cada vez mais sofisticados, que atendam apenas a um público adaptado à cultura digital, sem levar em conta parte significativa da população cuja desenvoltura com a tecnologia não é tão grande. Um desenvolvimento equilibrado, que atenda a todos com suas características específicas, é uma questão de justiça e de empatia, que nunca podem ser esquecidas.

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