Capacitação e recolocação de trabalhadores demitidos são desafios para as empresas em tempos de pandemia

Belo Horizonte, MG 2/6/2020 – O papel do setor de Gestão de Pessoas é tentar amenizar a perda de um emprego, pois tratar as pessoas com cuidado e respeito é fundamental

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) revelam que a economia brasileira fechou 860.503 empregos com carteira assinada em abril deste ano. Desse montante, Minas Gerais contabiliza 88.298, o segundo maior saldo negativo do país, atrás apenas de São Paulo, com mais de 260 mil demissões no mesmo período. Estudo publicado no início deste mês pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) aponta um cenário de queda de produção das atividades em 2020, motivada pelos efeitos da retração econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus. Em Minas Gerais, os setores industriais que tendem a sentir os maiores efeitos são os de automóveis, caminhões e ônibus (-6%), refino de petróleo e coquerias (-4,1%), autopeças e acessórios (-3,7%) e siderurgia (-3,7%).

Diante desse cenário, empresas estão encerrando atividades e tendo que demitir funcionários. Como forma de apoiá-los neste momento, algumas corporações estão investindo em capacitação e recolocação dos colaboradores demitidos. Segundo a especialista em Recursos Humanos e Gestão de Pessoas, Rejane Evangelista, a área de RH de uma organização se torna fundamental nesse momento delicado. Ela afirma que a responsabilidade social deve ser uma obrigação de todas as empresas.

“O papel do setor de Gestão de Pessoas é tentar amenizar a perda de um emprego, pois tratar as pessoas com cuidado e respeito é fundamental”, avalia. “É uma situação difícil tanto para quem recebe quanto para quem dá a notícia. Não existe jeito fácil de fazer, mas o mais importante é buscar humanizar esse momento. Ser sincero e claro no comunicado, envolver todo o corpo gerencial e diretoria: isso mostra o quanto essas pessoas foram e continuam sendo importantes para a empresa”, aconselha.

Rejane Evangelista ressalta a importância de os colaboradores se sentirem acolhidos no momento da demissão. Por isso, recomenda que a empresa busque uma assessoria externa para ajudar as pessoas na retomada da vida profissional. “Será um diferencial. É fundamental se preocupar com seus colaboradores, familiares e comunidade do entorno da empresa. Em um cenário de demissão, isso se torna ainda mais necessário, pois são sonhos sendo adiados e até mesmo interrompidos; são famílias que vão se desestruturar. Enfim, temos que ter em mente que estamos lidando com pessoas e não máquinas.”

A especialista ressalta que as empresas têm parceiros e é importante utilizar essas parcerias para oferecer aos funcionários algo que possa realmente fazer diferença para elas, como, por exemplo, a manutenção de assistência médica por um período depois da demissão. “Todos nós sabemos da importância de se ter plano médico em um país que tem a saúde pública sucateada. Outra dica é oferecer ao colaborador um suporte para ajudá-lo no retorno ao mercado de trabalho”, diz. Uma empresa pode proporcionar ao ex-colaborador a oportunidade de ter uma ajuda profissional para construir um currículo atrativo para o mercado e dicas de como se comportar em uma entrevista, por exemplo. “Assim, esse profissional vai perceber que não está sozinho”, afirma.

Crise econômica mundial, agravamento do cenário de retração provocado pela pandemia e a falta de horizonte sustentável de longo prazo para a produção de autopeças em Minas Gerais foram motivos que levaram KF Fabricação de Peças Automotivas a encerrar as atividades, no mês de maio, em Minas Gerais. As duas unidades fabris da empresa, instaladas em Betim e Contagem, foram desativadas e houve o desligamento de 295 colaboradores.

A supervisora de Recursos Humanos da empresa acompanhou tudo de perto e conta que os controladores da KF assumiram seu compromisso de responsabilidade social ao manter um pacote de benefícios para todos os funcionários demitidos, além de conseguir a recolocação de 12 ex-empregados em uma indústria de autopeças concorrente. Antes de realizar as demissões, entre março e abril, a empresa concedeu férias para todos os colaboradores, mesmo os que ainda não tinham período aquisitivo. Em seguida, manteve todos em licença remunerada e manteve os pagamentos e os benefícios dos funcionários em dia.

Mesmo com a demissão, os convênios de plano de saúde e odontológico foram mantidos por mais 60 dias. Além disso, todos os colaboradores tiveram direito a uma assessoria emocional e técnica personalizada para o retorno ao mercado de trabalho: elaboração de currículo, orientações de como se preparar para uma entrevista de emprego, marketing pessoal, dicas de como trabalhar o perfil profissional nas redes sociais, participação em grupo fechado de aplicativo de mensagens com comunicados sobre oportunidades de emprego.

Rejane Evangelista conta que, com o apoio da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), foi contratada a assessoria da empresa J&R, parceira do Instituto Mix Betim – Escola de Cursos Profissionalizantes, para prestar serviços de apoio como forma de benefício aos ex-empregados. “Trata-se de um serviço diferenciado, que ajuda a pessoa a se reerguer. Mesmo diante de um cenário econômico ruim, tudo foi feito com muito cuidado e respeito”, destaca.

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