Como fica a convivência entre varejo on-line e físico após a pandemia

14/7/2020 –

Não importa o tamanho da loja, o segmento ou a rentabilidade. Com a pandemia de COVID-19 obrigando o país a adotar o isolamento social, a grande maioria dos varejistas precisou recorrer aos canais digitais para continuarem operando e vendendo os produtos e serviços. Essa nova realidade mudou a relação entre o varejo físico e on-line. A partir de agora, quem quiser sobreviver no setor vai ter que se adaptar ao cenário e compreender que o digital se estabeleceu como importante recurso de venda.

Não é preciso fazer previsões mirabolantes para ver que a relação entre o comércio eletrônico e o varejo físico vai passar por mudanças daqui para frente. Sem os canais on-line, muitas lojas não conseguiriam vender e, certamente, sofreriam ainda mais durante a pandemia – e é um caminho que não tem mais volta. Se antes a participação do e-commerce era de 7% em todo o varejo, a projeção da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) estima essa participação em 15% já a partir de 2021.

A convivência baseada na ideia de transformação digital vai ficar no passado. O pós-pandemia vai ser marcado pelo momento de aceleração digital. Quem conseguiu fazer esse processo antes da quarentena mostrou melhor adaptação às mudanças provocadas pelo novo coronavírus e vai conseguir levar esse modelo adiante, atraindo mais clientes e aumentando a receita por meio dos canais on-line.

Questões envolvendo o omnichannel, por exemplo, tendem a ser mais presentes no dia a dia do varejista. O período em que se vive obrigou o consumidor a ficar mais digital. Isso levou a uma corrida grande de empresas ao e-commerce, mas não se trata apenas de loja virtual. É preciso saber utilizar ferramentas digitais a favor, dando condições para que os vendedores da loja física possam trabalhar. É uma barreira que finalmente cai: se antes havia resistência ao digital nos pontos de venda físicos, agora é preciso adotá-lo radicalmente.

É uma mudança que vai impactar toda a cadeia, impulsionada pelo crescimento de categorias que, antes, tinham pouca participação nos negócios on-line. Comprar produtos de supermercado pela web deixou de ser algo temeroso, acarretando transformações nos processos logísticos como um todo – quem compra um item perecível espera recebê-lo o quanto antes. É um ganho operacional que vai trazer benefícios para todos que estiverem atuando nos canais digitais.

Evidentemente ainda há desafios importantes a serem cumpridos no país. Por mais que se aproxime a fase de aceleração digital, essa realidade ainda é para a minoria dos negócios. Existem empresas que sequer começaram uma jornada de transformação digital, mesmo com a pandemia exigindo a busca por canais on-line. Logo, o que vai se observar são duas situações distintas: a aceleração digital para quem já se transformou e a aceleração do processo de transformação digital para quem não fez esse trabalho.

É um cenário ruim, infelizmente, mas é o que se observa no mercado brasileiro. Há grandes empresas que não sabem nem por onde começar o processo de digitalização do negócio. O motivo era bem simples: esses empreendedores não enxergavam o digital como prioridade. Agora esses canais passaram a ser percebidos como prioritários. A teoria da transformação digital finalmente vai passar para a prática.

O fato é que a pandemia tirou todo mundo da zona de conforto e colocou na zona de desconforto. É preciso pensar em alternativas, buscar modelos, atualizar-se e encontrar soluções que ajudem a manter as vendas mesmo com o isolamento social e a pandemia de COVID-19. A fronteira entre o varejo físico e o on-line vai, cada vez mais, desaparecer. Quanto antes a empresa perceber isso, melhor vai ser a adaptação ao “novo normal” daqui em diante.

* Diogo Lupinari é CEO e cofundador da Wevo, empresa especializada em integração de sistemas e dados – [email protected]

** Mauricio Salvador é presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico – ABComm – e-mail: [email protected]

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