Como proteger o fluxo de caixa da empresa em época de crise?

Rio de Janeiro 16/6/2020 – As empresas que tomarem as medidas corretas e resistirem a essa crise, com certeza sairão mais fortes e em uma posição favorável, crescendo junto com o país.

Em uma época de crise, como agora, é importante se manter atento e proteger o fluxo de caixa da empresa, com busca de financiamento, redução de custo, controle do endividamento e controle de riscos.

A crise causada pela Covid-19 está pressionando de forma muito significativa o caixa de muitas empresas.  

E essa crise tem uma particularidade, atingiu diferentes setores de formas distintas. Há empresas que estão a todo vapor com dificuldade de atender toda a demanda existente. Outras, que tiveram um pico significativo de demanda, mas que agora estão começando a sentir as reduções generalizadas da economia. E as que tiveram seu faturamento reduzido drasticamente.

Por isso, cada caso é um caso. E é fundamental acompanhar e analisar a situação dia a dia. Não adianta fazer plano de longo prazo. Mas é importante fazer caixa para passar esse período. Muitas empresas com bom produto ou serviço morrem por falta de caixa. Sem ele, o negócio sufoca.

E para não acabar se complicando, as empresas devem observar quatro itens:

 

1. Buscar fontes de financiamento

No Brasil, historicamente, o pequeno e o médio empresários têm grande dificuldade de financiar as suas operações.

Empréstimos com garantia simplificada cobram de 3% a 4% ao mês. Para tomar um montante correspondente a 2 meses de faturamento a empresa paga de 6% a 8% do faturamento todos os meses. Poucas empresas operam com uma lucratividade que suporte isso.

Em geral, as melhores taxas de empréstimo de bancos são praticadas em modalidades como antecipação de recebíveis e empréstimos com garantia firmes. Essas modalidades oferecem taxas acima de 1% ao mês.

“Existe a dívida boa e a dívida ruim. A dívida boa é aquela tomada para crescer. Infelizmente, não estamos falando de endividamento bom”, diz Mauro Medeiros, CFO do Grupo Múltipla.

O governo agiu rápido e abriu fontes de recursos para as empresas, visando preservá-las, como:

  • Diferimento do simples e do FGTS: vencimentos das guias de pagamento adiados em 90 dias.
  • Empréstimo para pagamento da folha: BNDES e bancos disponibilizaram linha para pagamento de folha com juros de 3,75% ao ano, com restrição pelo faturamento da empresa
  • Linha de crédito especial (PRONAMPE): linha de crédito com taxa Selic + 1,25% ao ano e o valor a ser emprestado pode ser de 30% do faturamento anual da empresa em 2019.

No caso das linhas de crédito, as empresas devem se comprometer a não demitir os funcionários.

Houve também a edição de medidas provisórias relativas à flexibilização de algumas regras trabalhistas, que dão mais fôlego financeiro:

  • possibilidade de as empresas suspenderem os contratos de trabalho por até 2 meses.
  • adiamento do pagamento do abono de férias. Os valores devem ser quitados até dezembro. A comunicação de férias pode ser feita em 48 horas e antecipação de férias.

 

2. Redução de custos e despesas

Há várias possibilidades de redução de custos e despesas, como:

Mão de obra: utilizar a flexibilização das regras trabalhistas.

“A negociação com os funcionários e a participação deles no sacrifício que estamos passando é fundamental nessa hora. Bonificações e participações de lucro podem ser adiadas ou parceladas”, destaca o CFO da Múltipla.

No caso da gestão de pessoal, é importante não deixar a equipe parada ou subutilizada. Quando não for possível a suspensão do contrato de trabalho ou antecipação de férias, as demissões devem ser consideradas.

Muitos empresários optam por não demitir por falta de recursos para quitar as indenizações. Isso é um erro, pois acaba acumulando mais dívidas. É possível negociar o pagamento parcelado dessas indenizações na justiça do trabalho. 

Renegociação de contratos: os locadores estão se mostrando sensíveis a pedidos de negociação de contrato. A inadimplência nesses contratos não é boa ideia, já que as multas por atraso são pesadas.

Caso não haja negociação, outra alternativa é a entrada na Justiça para rediscussão do contrato, previsto em caso de calamidade pública. Recentemente, a MSA Advogados conseguiu na Justiça a redução de 50% do valor do aluguel para um de seus clientes.

É importante também sempre que possível manter em dia os pagamentos relativos às despesas de condomínio. Cobrar também da administração dos condomínios que reduzam os seus custos é essencial.

Prestadores de serviço em geral: têm negociado os seus honorários, já que várias dessas empresas perdem serviço durante o período de isolamento.

Replanejamento de compras: para empresas que estão operando, é preciso ter uma atenção maior ao estoque e às compras. Além de negociar melhores prazos com os fornecedores, sempre que possível você deve dar preferência para produtos com ciclo de estoque menores, para os quais a imobilização de capital seja menor.

 

  1. Controle do endividamento

“É fato que as empresas sairão mais endividadas depois dessa crise. Várias das ações que sugerimos aos nossos clientes acabam gerando um maior endividamento. Então é fundamental que a empresa tenha total controle desse endividamento”, frisa Mauro Medeiros.

Ter controle do endividamento significa provisionar os valores não pagos agora e valores negociados com fornecedores. Esse controle e o correto registro de provisões é recomendado  sempre.

Para empresas que possuem dívidas, pode ser uma oportunidade de trocar dívidas mais caras por outras mais baratas.

 

  1. Proteção contra riscos

Em épocas de crise é natural que busquemos correr menos risco, e parece adequado seguir essa estratégia. É importante neste momento rever as políticas de gestão da inadimplência, por exemplo.

Mesmo que um cliente esteja trabalhando com sua empresa há anos sem problemas de inadimplência, até que ponto vale você assumir o risco do negócio dele? 

Pode ser interessante trocar modalidades de financiamento próprio por modalidades oferecidas pelo banco. Com isso, o banco fica com o risco do seu cliente e não você.

Mauro destaca que todas essas medidas requerem também organização e preparo por parte das empresas. Ter sua estrutura financeira organizada, com métricas e indicadores claros é fundamental para poder tomar essas medidas e superar esse momento.

Por fim, Mauro Medeiros acredita que essa crise irá passar, e quem sobreviver, sairá mais forte. “Dizem que o que os problemas nos fortalecem, e acho que as empresas que tomarem as medidas corretas e resistirem a essa crise, com certeza sairão mais fortes e em uma posição favorável, podendo crescer junto com o país.”

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