Estudo relaciona perda de audição a problemas cognitivos na terceira idade

São Paulo-SP 13/5/2013 – A atenção dos familiares e cuidadores em relação à audição do idoso é fundamental, pois há um estigma muito grande em relação à perda auditiva e muitos idosos não querem usar um aparelho auditivo

Há uma razão a mais para nos preocuparmos com a perda de audição, uma das condições de saúde mais comuns em idosos e uma das mais amplamente tratadas. Um novo estudo realizado por pesquisadores da Johns Hopkins Medicine sugere que idosos com audição comprometida estão em risco de desenvolver déficits cognitivos – problemas de memória e pensamento – mais cedo do que aqueles cuja audição está intacta.

O estudo, publicado no JAMA Internal Medicine, foi liderado por Frank Lin, especialista em audição e epidemiologista, que, ao longo dos últimos anos, tem documentado a extensão dos problemas de audição em idosos e sua associação com quedas e o aparecimento de demência.

Em sua nova pesquisa, Lin analisou dados de 1.984 idosos que participaram, durante muitos anos, do Health ABC Study, um estudo de longo prazo sobre idosos, realizado em Pittsburgh e Memphis. A idade média dos participantes era de 77 anos, nenhum tinha evidência de comprometimento cognitivo no período abrangido pela pesquisa.
Em 2001 e 2002, os idosos passaram por testes de audição e por testes cognitivos. Os testes cognitivos foram repetidos três, cinco e seis anos mais tarde.

Os testes cognitivos incluíram o Mini Exame do Estado Mental, que é feito por meio de uma entrevista e produz uma imagem geral de estado cognitivo, e o Teste de Substituição de Dígitos por Símbolos, um exercício escrito, onde se solicita aos participantes que combinem símbolos e números, o que pode revelar déficits no funcionamento da memória.

Ao analisar os dados dos testes de Mini Exame do Estado Mental, Lin descobriu que as taxas anuais de declínio cognitivo foram 41% maiores em idosos com problemas de audição do que naqueles sem problemas de audição. Usando essa informação, descobriu que as pessoas idosas com problemas de audição experimentaram um declínio de cinco pontos no exame em 7,7 anos, em comparação com 10,9 anos para aqueles com audição normal.

A análise dos resultados dos Testes de Substituição de Dígitos por Símbolos revelou a mesma tendência de queda, embora não tão acentuada: idosos com perda auditiva registraram uma taxa anual de declínio cognitivo 32% maior do que aqueles com audição intacta.

Implicações do estudo na prática

“Para os cuidadores, familiares e idosos, a mensagem central do estudo é clara: devemos prestar atenção à perda de audição, uma vez que a maioria das pessoas que procura atendimento médico devido a problemas auditivos faz isto com 10-20 anos depois do primeiro aviso de um problema”, explica a geriatra Vanessa Morais (CRM-SP 132.283), diretora da VR MedCare.

A atenção dos familiares e cuidadores em relação à audição do idoso é fundamental, pois há um estigma muito grande em relação à perda auditiva e muitos idosos não querem usar um aparelho auditivo. “Isso significa que anos se passam e as consequências da deficiência auditiva se agravam, sem intervenções que podem fazer a diferença, inclusive, no âmbito cognitivo do idoso”, diz a médica.

Vanessa Morais destaca que um indício forte de que o idoso possa estar com problemas de audição é o isolamento social. “Quando as pessoas têm dificuldade em escutar e/ou compreender o que alguém está dizendo, muitas vezes, elas deixam de aceitar convites para jantares ou festas, deixam de assistir a concertos ou aulas, não comparecem mais aos eventos familiares. Com o tempo, esse retraimento social pode levar à perda de relacionamentos significativos e de atividades que são fundamentais para que os idosos se sintam importantes socialmente”, explica a diretora da VR MedCare.

Diversas pesquisas estabelecem que a saúde cognitiva do idoso depende do exercício, tanto do corpo, quanto do cérebro, para que estes indivíduos permaneçam socialmente engajados. “Agora, esta nova pesquisa nos revela claramente que a saúde auditiva é parte da saúde cognitiva”, explica a geriatra Renata Diniz (CRM-SP 132.280), que também dirige a VR MedCare.

Segundo Renata Diniz, “este estudo reforça a importância dos déficits auditivos e alerta familiares e médicos a manterem vigilância ativa, através do questionamento direto e da observação de alterações auditivas, pois até mesmo os idosos que ouvem sons relativamente bem, frequentemente relatam que palavras soam distorcidas ou murmuradas, indicando uma deterioração nos mecanismos auditivos que processam a fala. A perda de audição pode exacerbar a fragilidade do idoso e outras condições médicas”.

Frank Lin pretende ampliar o seu objeto de estudo numa próxima pesquisa, onde verificará se os idosos com problema auditivos que começam a usar aparelhos auditivos podem prevenir ou retardar a progressão do declínio cognitivo.

“Enquanto isso, cuidadores, familiares e idosos devem estar atentos às dificuldades auditivas. O recomendado é procurar o atendimento médico do geriatria ou do otorrinolaringologista que avaliarão a necessidade de fazer testes auditivos. E se for detectado algum problema que seja passível de melhora com o aparelho auditivo, o mesmo deve ser incorporado rapidamente à rotina do idoso, visando também preservar o bom funcionamento da mente. Manter a capacidade de ouvir é um passo importante na prevenção de privação sensorial que pode contribuir para disfunção cognitiva”, defende a diretora da VR MedCare.

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