Maior encontro das nações indígenas do Brasil se reinventa virtualmente por conta do novo coronavírus

Brasília 30/4/2020 – O ATL 2020 representa a resistência dos indígenas do Brasil, uma causa que é de todos nós

Há sete anos Watatakalu Yawalapiti viaja cerca de 800 km desde sua aldeia, no Parque Indígena do Xingu (MT), para Brasília, onde por quatro dias ela participa das atividades do Acampamento Terra Livre (ATL), maior encontro das nações indígenas do Brasil.

São debates, discussões pelos direitos dos povos tradicionais, danças, rituais; promoção de troca e venda de produtos, além da convivência e oportunidade de conhecer a realidade de “parentes” – como os indígenas se referem uns aos outros – de outras etnias.

“No ATL foi onde aprendi a respeitar os outros parentes, onde entendi o que é sermos “vários povos”. Como é rica a nossa cultura, nossa diversidade… considero o ATL uma faculdade indígena”, conta ela.

Este ano está sendo diferente: sua fala foi feita em sua própria aldeia e teve 9,3 mil visualizações na live transmitida pelo Facebook. Aos 39 anos, Watatakalu é membro da Articulação Feminina do Alto Xingu, considerada uma das mais representativas lideranças do território.

O evento acontece há 15 anos no mês de abril, mas este ano, por conta da pandemia da COVID-19, o ATL teve seu formato presencial adaptado para o meio virtual.

Convocada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e Mobilização Nacional Indígena, (MNI), a 16ª edição do ATL acontece entre os dias 27/04 e 30/04, nas plataformas online da APIB, Mídia Índia e Mídia Ninja, transmitindo pajelança, cantos, danças, mostra de filmes, além de mesas com diálogos entre lideranças de diferentes etnias, indigenistas, antropólogos e outras interações que conectam povos de todo o Brasil no ambiente online.

O primeiro dia foi marcado pelo colorido dos cocares, pinturas em jenipapo e urucum, além da alegria de falas entre pessoas que não se viam há pelo menos um ano e foi conduzido por Sônia Guajajara, coordenadora executiva da APIB. Um dos pontos altos foi a fala de Tuíre Mēbêngôkre, a icônica indígena caiapó que ficou famosa em 1989 ao encostar um facão no rosto do então diretor da Eletronorte, em protesto contra a criação da hidrelétrica de Kakaraó, atual Belo Monte.

“Em tempos em que o isolamento social incentiva as criminosas invasões de
madeireiros, garimpeiros, missionários e grileiros nas Terras Indígenas, quando a
violência e os ataques aos territórios só aumentam e o governo federal desarticula instituições importantes na defesa dos povos, como IBAMA e FUNAI; convocamos a sociedade brasileira a participar do ATL 2020, que representa a resistência dos indígenas do Brasil, uma causa que é de todos nós”, convida Guajajara.

O evento segue até a noite de quinta-feira, 30/04, e a programação pode ser consultada no site da APIB. Nos painéis de discussões, os temas variam entre “Saúde indígena e o racismo institucional”, “Os povos indígenas em tempos de Coronavírus”, “Agenda LGBTQ + Indígenas”, “Enfrentamento às mudanças climáticas, aumento do desmatamento e o impacto no pós-pandemia”, “Direitos Indígenas, violações e autoritarismos”, “Os processos migratórios dos povos indígenas no Acre e a Covid-19”, “Histórias sobre as primeiras retomadas no sul do Brasil”, “Mesa internacional”, entre muitos outros.

 

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