Carnaval: os dramas e perigos que ficam após a folia

Nos últimos anos o carnaval tem ganhado um forte impulso, patrocinado por instituições privadas e governos que vêem na festa uma boa oportunidade de receita. O que tem sido pouco debatido são as efeitos colaterais por trás da popularização desta festa.

Não é só alegria momentânea que segue os carros alegóricos no sambódromo ou nas ruas e avenidas da sua cidade, mas também as drogas e outros perigos.

Local: São Paulo, SP

Data: 14/02/2018

No carnaval, com os governos e a imprensa se dedicando a tornar a festa cada vez mais popular e abrangente é necessário que, na contramão do que tem sido veiculado, sejam levantados também os perigos "ocultos" por trás dos blocos carnavalescos e da aparente "alegria" dos foliões.

Não é segredo que o combate ao tráfico de drogas no Brasil não é eficiente e isso facilita o acesso e a ocorrência de festas regadas a álcool e outras drogas lícitas e ilícitas. Não é diferente com o carnaval, que agora se populariza a passos largos na capital e em cidades do interior paulista.

O drama do vício é sempre iniciado onde "situação e propensão" se aliam para deflagrar uma série de erros comportamentais, que em longo prazo, levam a perda do controle com relação ao consumo de alguma substância. Foi só por alguém experimentar que famílias inteiras foram devastadas e hoje vivem o drama e o peso da dependência química por parte de algum parente.

Quando falamos que dois elementos, situação e propensão, são aliados para conduzir as pessoas ao abismo das drogas, nos referimos por "propensão", facilitadores do vício como é a depressão, que servem como "gatilhos mentais" na hora da reflexão sobre "experimentar ou não experimentar" algum tipo de droga. Quando falamos da "situação" nos referimos justamente aos ambientes onde os problemas pessoais (bem como a responsabilidade) parecem "evaporar" por um momento, isso somado ao clima de "êxtase coletivo" e abundancia de drogas ao alcance da mão, pouco contribui para os foliões conseguirem evitar uma "nova experiência".

Mas a "nova experiência" costuma não terminar apenas na festa, infelizmente, ela costuma iludir, e na busca por repetir a vivência, ela logo é apenas um novo e terrível problema. Não é nenhum segredo que mais de 90% dos meus pacientes em tratamento tiveram esses dois agentes associados para induzir-lhes ao vicio: situação e propensão.

Não são apenas as substâncias conhecidas que causam danos. Tendo iniciado sua popularização em 2014, drogas como o MDMA (metilenodioximetanfetamina), considerada a "droga do momento" e listada na Global Drug Survey, ranking que lista as dez drogas mais utilizadas no mundo, nos últimos anos, já esteve aqui nos últimos carnavais e foi batizada como a "água do amor", iludindo muitos foliões pelo falso simbolismo e pela aparente novidade em relação às outras drogas.

Por isso, nesse carnaval, é preciso que você saiba que não é só alegria momentânea que segue os carros alegóricos no sambódromo ou nas ruas e avenidas da sua cidade, mas também as drogas, essas que podem fazer sua passagem pela vida, ter um desfile muito triste.

Certamente, a melhor atitude para reduzir os danos das drogas é não usá-las. E o trabalho a ser feito nesse sentido para impedir que mais vidas sejam ceifadas deve ser informativo e sobretudo preventivo, a começar pelas mesmas instituições e autoridades que promovem o evento, cuja parcela de responsabilidade deve ser medida na mesma proporção das receitas da folia.

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Caio Takeda atua há mais de dez anos ajudando a resgatar a dignidade de dependentes químicos. Além de palestrante e ativista sobre a temática do combate às drogas. É fundador da comunidade terapêutica "Acolhida", que possui cinco unidades no Estado de São Paulo.



Website: http://www.caiotakeda.com.br/

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