OPINIÃO | Por um jornalismo ético

5/4/2013 –

A imprensa é um dos pilares de qualquer regime democrático. E, no próximo dia 7 de abril, comemora-se o Dia Nacional do Jornalista. A data é celebrada em virtude da fundação da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) pelo jornalista Gustavo de Lacerda, em 1908. Ao longo deste último século o jornalismo passou por mudanças profundas, atravessando um processo que impõe uma reflexão sobre sua função na sociedade moderna.

No Brasil, a imprensa vem assumindo cada vez mais uma posição importante, sendo considerada uma das instituições com maior credibilidade junto à sociedade, como apontam diversas pesquisas. Sua relevância social se deve fundamentalmente a seu papel como formadora de opinião pública. A opinião da sociedade sobre suas instituições é construída, em grande parte, segundo a versão e a opinião da imprensa sobre elas. A cobertura jornalística dos fatos ajuda a compreender a história recente do País, marcada tanto pela ação como omissão de seus profissionais.

Paradoxalmente, a imprensa e jornalistas tiveram responsabilidade tanto na implantação e manutenção do regime militar como na sua resistência e derrocada. Sem a imprensa, não teria havido o impeachment, como os próprios jornalistas afirmam. Mas também não teria tido o caso da Escola de Base, quando uma acusação irresponsável destruiu a reputação de pessoas comuns.

Um dos conceitos mais difundidos sobre o papel da imprensa é o de “cão de guarda” da sociedade diante dos desvios, das prepotências e das injustiças. Em uma sociedade confrontada diariamente por escândalos, corrupção e desvios de valor, nada mais natural que a imprensa se posicione ou seja posicionada como uma instituição vigilante da vida pública, funcionando como uma ponte entre os abusos, a cobrança por justiça e o julgamento dos “culpados”. Nesse sentido, a imprensa e seus profissionais servem como um contrapeso entre os poderes, permitindo seu equilíbrio.

Mas até que ponto os jornalistas e os meios de comunicação são capazes de refletir sobre seus vícios na mesma medida em que são ciosos de suas virtudes? Até que ponto, nós, cidadãos, conseguimos entender, valorizar e contribuir para o aperfeiçoamento da imprensa? Afinal, como qualquer instituição livre e democrática, a imprensa tem suas virtudes e vícios. O prestígio e o poder atribuídos à imprensa implicam também uma responsabilidade maior, que deve ser objeto de uma ampla reflexão por toda a sociedade.

É comum ouvirmos a crítica de que a opinião pública nada mais é do que a opinião publicada. Mas também já se disse que para combater os males da imprensa o melhor remédio é mais imprensa e mais liberdade de imprensa. É isso o que defendemos. Liberdade balizada por princípios éticos.

A liberdade de imprensa deve ser
balizada por princípios éticos.
O próprio Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros apregoa que “o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos”, devendo pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação. O jornalista não pode divulgar informações visando o interesse pessoal ou buscando vantagem econômica; de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos; ou obtidas de maneira inadequada, por exemplo, com o uso de identidades falsas, câmeras escondidas ou microfones ocultos, salvo em casos de incontestável interesse público e quando esgotadas todas as outras possibilidades de apuração.

São princípios como estes que cabe ao cidadão comum cobrar. É isso o que a sociedade espera dos profissionais da imprensa. O papel de vigilante da sociedade não pode ser desvirtuado para a denúncia vazia. Nem pelo esquecimento de que há muita coisa boa sendo feita, que pode servir de inspiração para outras pessoas. Há, sim, boas notícias a serem dadas.

Como em qualquer profissão, existem bons e maus jornalistas, aqueles que seguem as normas de conduta e outros, os interesses próprios. Alguns veículos de comunicação são considerados imprensa de referência; outros, sensacionalistas. Precisamos separar o joio do trigo e valorizar aqueles jornalistas e veículos de comunicação pautados nos princípios da verdade e do esclarecimento da população.

Na atualidade, muito se fala sobre o fim do jornalismo em função das novas mídias digitais. O que vemos é uma mudança nas formas do fazer jornalístico. O que importa de fato é a necessidade da instituição jornalística fortalecer as raízes e os princípios primordiais da profissão.

Cabe aos profissionais da comunicação compreender o vital papel do jornalismo na manutenção da democracia e do respeito aos direitos do cidadão. Não há tecnologia capaz de substituir o seu ofício. Por isso, nesta passagem do Dia Nacional do Jornalista, cumprimentamos a todos os profissionais que fazem do seu dia a dia um exercício de democratização de informações e busca da verdade.

Jean Gaspar, mestre em Filosofia pela PUC/SP, é presidente da Liga do Desporto, entidade que promove atividades físicas e desportivas como instrumento de educação e formação da cidadania.

Website: http://www.pluricom.com.br/clientes/liga-do-desporto/2013/04/opiniao-por-um-jornalismo-etico

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