Os muitos impactos da obesidade sobre o reumatismo

SÃO PAULO-SP 25/3/2013 – “Hoje, todos os profissionais de saúde olham para o futuro e se perguntam o que fazer a respeito da obesidade”.

Uma edição especial da revista Arthritis Care & Research examina a fundo o papel da obesidade sobre as mais diversas formas de doenças reumáticas. Segundo os editores, a série de 19 artigos sobre o tema se justifica devido ao papel do excesso de gordura sobre o reumatismo, não apenas por causa de seus impactos significativos, mas também por causa do potencial para reverter alguns desses efeitos negativos.

“Hoje, todos os profissionais de saúde olham para o futuro e se perguntam o que fazer a respeito da obesidade. Esta série de artigos descreve e investiga caminhos que podemos seguir, para que possamos aplicar o conhecimento científico e ter uma imagem mais clara do que fazer a respeito da epidemia de obesidade que assola as nações no mundo inteiro”, afirma o reumatologista Sergio Bontempi Lanzotti, diretor do Iredo, Instituto de Reumatologia e Doenças Osteoarticulares, (CRM-SP 60.377).

Os artigos desta edição especial relacionam a obesidade com diversas doenças reumáticas, incluindo a osteoartrite (OA), a artrite reumatoide (AR) e a artrite psoriática. A seguir, o médico destaca alguns desses estudos e suas principais conclusões.

O excesso de peso e as diferenças raciais

Um estudo realizado com mais de 3.000 homens e mulheres, com idades entre 45-79 anos, que tinham OA do joelho ou estavam em um risco aumentado de desenvolver a doença, descobriu que mulheres afro-americanas com um IMC (índice de massa corporal) alto ou com a cintura com uma grande circunferência apresentaram prognósticos piores da doença, ao longo de um período de quatro anos, quando comparadas às mulheres brancas com as mesmas características.

“Os autores do estudo dizem que os maus resultados das mulheres afro-americanas podem ser em parte devido a fatores adicionais – incluindo outras condições de saúde, depressão e piores dores do joelho – e que, visando esses fatores, a disparidade encontrada no estudo pode ser reduzida”, diz o reumatologista.

Ganho de peso e uso de corticoides por pacientes com AR

Um novo estudo holandês lança um olhar mais atento sobre a relação entre baixas doses de corticosteroide e o ganho de peso por pacientes com artrite reumatoide.

Para saber se a prednisona é diretamente a responsável pelo ganho de peso destes pacientes, os pesquisadores analisaram dados de mais de 200 adultos com AR que tiveram o diagnóstico da doença confirmado menos de um ano antes, em comparação com um grupo controle.
Durante dois anos, ambos os grupos tiveram a doença bem controlada com uma estratégia de tratamento que empregava o metotrexato como base. Mas a um dos grupos também foi dada uma dose baixa de prednisona (10 mg / dia), enquanto ao outro foi dado um placebo.

Depois de analisar os resultados, os pesquisadores descobriram que a prednisona não afeta de forma decisiva o peso corporal. Mas quando a substância suprimi a atividade da doença, ela pode levar ao ganho de peso do paciente. Na verdade, na sua forma ativa ou não controlada, a AR pode resultar em perda de peso, provavelmente devido à perda de apetite e / ou alterações metabólicas.

Os pesquisadores alertam para o fato que altas doses de prednisona, durante longos períodos, podem causar ganho de peso. “Mas eles esperam que os seus resultados ajudem a dispersar os receios em relação às doses relativamente baixas do medicamento, especialmente porque os pacientes que participaram do estudo que tomaram prednisona apresentaram menos dor e lesões nas articulações em comparação ao grupo que usou placebo”, explica Sergio Lanzotti.

O médico destaca que é muito comum encontrar pacientes apreensivos em relação ao uso de uma baixa dose de prednisona assim que a artrite reumatoide é diagnosticada, devido ao seu suposto efeito de aumento de peso, o que se revelou um medo infundado pelo estudo holandês.
“É muito importante que os pacientes com artrite reumatoide não deixem de tomar os medicamentos indicados, logo após o diagnóstico da doença, porque eles ajudarão o paciente a ficar melhor. E é justamente quando o paciente está se sentindo bem que ele pode perder peso e cuidar da boa forma”, defende o diretor do Iredo.

Prevalência de gota x obesidade

É bem documentado que as pessoas obesas têm maior risco de ter gota do que aquelas que não são obesas. Um novo estudo quantifica esse risco utilizando informações de mais de 28.000 pessoas do National Center for Health Statistics (uma divisão do Centers for Disease Control and Prevention).

“Os pesquisadores descobriram que para cada aumento de uma unidade no IMC, o risco de gota sobe 5%. E o aumento do risco não se apresenta apenas quando o paciente já está obeso. Mesmo quando o paciente está com sobrepeso, o risco já é mais elevado do que o de uma pessoa com peso normal”, informa Sergio Lanzotti.

De fato, os pesquisadores descobriram que aqueles que estão acima do peso (com IMC entre 25 e 29,9) têm um risco 50% maior de desenvolver gota em comparação com as pessoas que apresentam um peso normal (com IMC inferior a 25). Esse risco é dobrado no primeiro nível de obesidade (IMC entre 30 e 34,9) e três vezes maior no segundo nível de obesidade (IMC de 35 ou mais). O risco elevado foi observado em homens e mulheres, bem como em todas as raças/ etnias.

Ainda segundo os pesquisadores, o risco de gota permaneceu elevado mesmo quando os níveis de ácido úrico foram levados em conta, o que sugere que altos níveis de ácido úrico não são a única causa do maior risco.

“Este estudo constitui-se num lembrete importante acerca dos quilos extras: eles podem aumentar não apenas a sua probabilidade de ter diabetes e problemas cardíacos, mas também aumentar a sua chance de ter que lidar com uma condição dolorosa como a gota. É preciso deixar claro que o excesso de peso tem um impacto adverso para a saúde, mas também tem um impacto negativo na determinação da gota”, observa o médico.

Web Site: