Por que a diversidade no trabalho é fundamental? Vantagens, desafios e boas práticas

Florianópolis, SC 6/9/2019 –

A intensa globalização gera um fluxo de pessoas como nunca antes na história. A tendência é que a diversidade aumente. Este texto traz alguns elementos relativos à diversidade no ambiente de trabalho.

No Brasil, segundo recente pesquisa da Folha de São Paulo, cresce a parcela dos que dizem já ter sofrido algum preconceito. Além disto, a intensa globalização gera um fluxo de pessoas como nunca antes na história. Neste contexto, a complexidade do trabalho aumenta, pois a interação torna-se mais desafiadora com maior diversidade.

Como agravante, ressurgem movimentos racistas em várias partes do mundo. Este problema deve crescer, a ponto de gerar uma crise sem precedentes, se é que já não estamos vivendo nela. A tendência é que a diversidade aumente devido às mudanças das pessoas que deixam seus países por demanda de emprego ou estudo, ou ainda mais com crescente fluxo migratório.

Tal contexto não está sendo adequadamente entendido por muitas organizações. Este texto traz alguns elementos relativos à diversidade no ambiente de trabalho.

Em 2015, o estudo denominado Diversity Matters (A diversidade é importante), elaborado pela Consultoria McKinsey, analisou o impacto da diversidade no trabalho. A pesquisa examinou dados de 366 empresas de capital aberto, de ampla gama de setores, no Canadá, América Latina, Reino Unido e Estados Unidos. Foram analisadas várias métricas, como resultados financeiros, composição da alta gerência e dos conselhos de administração. Entre as principais conclusões, a pesquisa apontou: As empresas com maior diversidade racial e étnica são 35% mais propensas a obter retornos financeiros acima da média nacional de seu setor. As empresas com menor nível de diversidade tanto de gênero quanto em etnia e raça são menos propensas a obter retornos financeiros acima da média do que empresas médias. A performance desigual de empresas do mesmo setor e do mesmo país implica que a diversidade é um diferencial competitivo que transfere market share para empresas mais diversificadas.

A compreensão sobre o valor da diversidade é fundamental. Embora algumas organizações considerem o respeito à diversidade étnica como princípio, elevando esta dimensão ao mesmo patamar de outros pilares que devem sustentar a sociedade, os conflitos étnicos mostram que tal atitude está longe de ser universal. Sendo assim, uma interessante estratégia de conscientização é entender quais benefícios podem ser trazidos pela diversidade.

Um dos primeiros trabalhos abordando a “diversidade étnica e a criatividade em pequenos grupos” foi uma pesquisa realizada na década de 1990, na Universidade de Michigan (EUA). Este estudo, com mais de 800 citações, analisou como a diversidade pode contribuir para aumento da criatividade dos grupos.  Como fundamentação, são apresentados estudos mostrando o efeito positivo da diversidade nas organizações, e como atividades realizadas por grupos de diferentes étnias contribuíram para empresas alcançarem maior variedade de mercados. O estudo comparou o desempenho de diferentes grupos envolvendo os seguintes perfis: apenas anglo-americanos (considerados homogêneos), e outros grupos contendo também membros afro-americanos, hispano-americanos e asiático-americanos. Os grupos geraram ideias, usando brainstorming, para aumentar número de turistas aos Estados Unidos. Como principal resultado, a pesquisa apontou que os grupos heterogêneos geraram melhores ideias, tanto mais viáveis quanto mais efetivas, ou seja, quanto a ideia de fato poderia contribuir para objetivo definido. Por outro lado, o trabalho também concluiu que maior diversidade pode estar relacionada a sentimentos negativos entre membros, dificuldades de comunicação e maior rotatividade. A consequencia natural é que apesar da potencial vantagem competitiva, a crescente diversidade demanda preparação das empresas, razão pela qual vale a pena conhecer como este tema está sendo tratado em diferentes organizações.

Existem várias corporações de nível mundial com práticas relativas ao tema. Por exemplo, a HP em sua página institucional define diversidade e aponta cinco pilares que suportam suas iniciativas nesta direção, a saber: Impulsiona os negócios; É importante para seus parceiros; Alimenta a inovação; Melhora as comunidades onde a empresa atua; e contribui para atrair e reter os melhores funcionários. A empresa também apresenta histórico com os principais marcos relativos à diversidade, sendo os mais antigos das décadas de 60 e 70.

Outra instituição de referência mundial, a NASA, tem seu próprio escritório de diversidade e inclusão. Este departamento fornece liderança para torná-la uma agência modelo sobre diversidade, inclusão e oportunidades iguais, por meio de políticas baseadas em evidências e inovações. Neste contexto, diversidade e inclusão são partes integrantes da agência. Seu compromisso com esses princípios contribui para “garantir justiça e equidade na tomada de decisões”. A diversidade e a inclusão também impulsionam o engajamento e a utilização dos talentos, origens e capacidades de indivíduos e equipes, permitindo-os criar e manter um ambiente de trabalho em que diversas ideias são altamente valorizadas e essenciais para soluções técnicas eficazes. A agência destaca programas específicos de inclusão para pessoas de origens africana, latina, asiática, com necessidades especiais, entre outros.

Sobre a realidade brasileira, uma dissertação de mestrado, de 2016, aponta que o país fez avanços significativos na aplicação e comunicação de práticas de diversidade desde o início da discussão sobre o tema nos anos 90. No entanto, a diversidade continua sendo um assunto em evolução, e as corporações em geral sempre terão espaço para melhorias em seu campo de diversidade no local de trabalho.

É fundamental entender que “o racismo retarda o desenvolvimento das potencialidades ilimitadas das suas vítimas, corrompe os seus perpetradores e desvirtua o progresso humano”. Neste contexto, quer as empresas estejam preparadas ou não, a diversidade no trabalho deve crescer. Cabe aos líderes entender este movimento, conhecer as melhores práticas, os desafios que este cenário apresenta, e transformar suas organizações para que estas possam utilizar a riqueza de seus talentos advindos das mais diversas origens.

Jonny Carlos da Silva

Professor titular, Engenharia Mecânica-UFSC, pós-doutorado junto à NASA, coach e palestrante.

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