Por que os advogados precisam adotar uma cultura data driven law

13/7/2020 –

Quando se fala na utilização de dados no dia a dia do ambiente corporativo, é comum imaginar tarefas relacionadas a marketing, vendas, gestão, tecnologia e finanças. Mas já passou da hora de vislumbrar a força das informações dentro da área jurídica. Mais do que analisar processos e fazer proposituras, o cenário atual exige que advogados e gestores tenham a capacidade de extrair inteligência a partir da tramitação das ações para conseguirem os melhores resultados para os clientes. Em suma, é necessário que eles tenham uma cultura data driven.

O Brasil, por exemplo, já vive um cenário avançado de digitalização no ambiente jurídico. A pesquisa Justiça em Números 2019, elaborada pelo Conselho Nacional de Justiça com informações referentes a 2018, mostra que apenas 16% dos processos ingressaram em papel. Ou seja, a cada cinco processos abertos no país, quatro já são feitos eletronicamente. Assim, além de agilizar e otimizar a tramitação judicial (economizando dinheiro público), esse cenário cria uma situação única para advogados: a chance de utilizar essas informações para prestar serviços melhores.

A cultura data driven nada mais é do que colocar os dados no centro das tomadas de decisão (“data centric”). É um conceito válido para qualquer segmento: varejo, indústria, finanças e, claro, jurídico. Hoje, por mais que a maioria dos processos já comece no ambiente digital, os advogados não têm uma preocupação com as informações, tanto que muitos não preenchem de forma adequada o cadastro, o que gera um problema logo no início da tramitação. Com dados pobres, o profissional tem mais dificuldade para analisar os documentos lá na frente e não conseguirá cruzar com outros arquivos caso precise. Dessa forma, as decisões seguem na base do feeling e da experiência profissional quando, na verdade, os dados poderiam fornecer uma visão mais completa e assertiva.

Felizmente, o primeiro passo para ter uma visão orientada a dados é saber trabalhar com tecnologia – e já há soluções capazes de enriquecer, reunir e extrair visões desse volume de informações jurídicas. Por meio do uso de técnicas computacionais, como, por exemplo, machine learning, essas ferramentas fazem uma varredura nos tribunais de todo o país para obter todos os dados processuais e, principalmente, oferecer relatórios eficazes para os profissionais. Dessa forma, os advogados têm todas as informações necessárias para fazer a gestão do trabalho, analisar as características de cada ação e extrair indicadores determinantes para os próximos passos a serem tomados.

É uma mudança considerável, evidentemente. De modo geral, a grande maioria dos profissionais não tem como cultura o uso de dados e sequer tem acesso a esse conhecimento nas salas de aula da universidade (com raras exceções). Muitos pensam que, depois de formados e com o registro na OAB, debruçariam-se nos principais códigos e leis da área de atuação para trabalharem. Entretanto, o mercado já está falando de automação, dados e Inteligência Artificial. Hoje, quem não souber utilizar a tecnologia a favor e tiver uma visão interdisciplinar para pensar em soluções inovadoras, vai ficar pelo caminho.

No fundo, o que se propõe é repensar a própria função de advogado, que é e sempre será fundamental na estrutura democrática. Muitos pensavam que a digitalização e a entrada de tecnologias como a IA iria reduzir o advogado a um mero atualizador de sistemas. Nada disso! As soluções tecnológicas podem libertá-lo e apoiá-lo para exercer aquilo que é a principal razão de ser do Direito: pensar de forma racional e inovadora para tomar a melhor decisão para os clientes.

*Vitor Saldanha é Head of Legal da Semantix e membro do conselho da ABRIA – Associação brasileira de Inteligência Artificial.

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