Por que uma gestão baseada em convicções?

São Paulo 13/12/2019 –

Em resposta às preocupações sobre o estado da economia mundial, refletidas por uma última queda dos rendimentos das obrigações e um começo da correção nos mercados de ações, os investidores tiveram a satisfação de receber a aguardada mensagem dos bancos centrais de que podem contar novamente com eles. 60% dos bancos centrais mundiais baixaram as suas taxas de juros no terceiro trimestre, uma iniciativa que não ocorria desde 2009.

Nesta concertação de flexibilização monetária, o Banco Central Europeu retomou os programas de compras de ativos no valor de € 20 bi por mês a partir de 1 de novembro. Depois da sua tentativa de normalização monetária falhar no ano passado, o próprio Fed retomou a flexibilização quantitativa até um montante de U$ 60 bi em compras mensais de bilhetes do Tesouro.

No meio desta recuperação massiva da artilharia monetária, o abrandamento das tensões comerciais sino-americanas desempenhou o papel de catalisador e desencadeou um regresso geral da confiança dos investidores, resultando um final de ano de bolsas em alta.

Em primeiro lugar, é importante salientar que a “financeirização” da economia, especialmente nos Estados Unidos, nos acompanha há 20 anos, justificando o fato de os bancos centrais estarem bastante preocupados com a evolução dos mercados. As margens de manobra dos dirigentes estão legitimamente correlacionadas com a cotação em bolsa e, sobretudo, os consumidores norte-americanos possuem uma proporção maior das suas poupanças em ativos financeiros. Assim, os bons resultados dos mercados sustentam a confiança dos consumidores e o crescimento.

A recuperação dos mercados de ações ainda é acompanhada por uma renovação da confiança na economia, que alimenta uma rotação favorável para os setores mais cíclicos, bem como um ligeiro aumento das taxas de juros. Como resultado deste regresso de melhor fortuna, os investidores sentem-se agora tentados a posicionar-se para um remake dos miniciclos de recuperações econômicas vividas em 2012/2013 e 2016/2017.

O fenômeno não é novo: nos últimos dez anos, o medo da recessão desencadeou uma política monetária vigorosa a cada ameaça grave de recessão econômica, resultando na recuperação dos mercados. Aliás, ao longo dos anos, muitos investidores relegaram a análise econômica a uma posição secundária. Inversamente, foram impostas as análises técnicas ou quantitativas baseadas no princípio no qual as mesmas desilusões econômicas acabam sempre por produzir os mesmos efeitos positivos sobre os mercados.

Esta lógica foi reforçada ao longo dos anos. A subvenção interminável em capital pelos bancos centrais permitiu a perpetuação do sobre-endividamento dos Estados e permitiu às pequenas e médias empresas, que poderiam ter se sufocado em condições normais, crescer e continuar a investir. Assim, evitar uma recessão tornou-se fundamental.

No entanto, há um preço a pagar por este sistema que permite evitar qualquer grande recessão cíclica: redução do potencial de crescimento a médio prazo. A garantia infinita de taxas de juros muito baixas, ou até negativas, incentiva o investimento financeiro em detrimento do investimento produtivo e favorece o endividamento, prejudicando o crescimento futuro para evitar uma recessão agora.

Esta corrida precipitada alimentou uma espécie de bolha geral de liquidez: enquanto o crescimento econômico tem diminuído nos últimos dez anos, o preço dos ativos financeiros aumentou sob o efeito da queda das taxas de juros. Atualmente, é consenso que essa bolha alimenta uma fragilidade global dos mercados e que essa divergência em relação à economia real começou a ter consequências sociais e políticas.

Essa bolha diferencia-se de uma bolha especulativa: atualmente, os mercados não são impulsionados pela ganância, como em 2000 ou 2007, mas sim pela necessidade de os investidores encontrarem onde investir a liquidez excedente. A crescente dispersão do desempenho no segmento de crédito é prova disso: esta classe de ativos continua a beneficiar-se de fluxos positivos no crédito, que concentram-se cada vez mais nos emitentes de boa qualidade, enquanto o segmento junk começa a ter problemas. De modo semelhante, nos mercados de ações, foi possível constatar que a volta do otimismo ao ciclo econômico nas últimas semanas não impediu os títulos de crescimento de elevada qualidade de continuarem o seu percurso. Assim, mesmo que o fenômeno de bolha de liquidez perdurasse e continuasse a dissociar os mercados financeiros da realidade econômica, não penalizaria o comportamento dos títulos com desempenho econômico superior, muito pelo contrário.

Por último, o desaquecimento secular no qual se registam os miniciclos econômicos é acompanhado por uma pressão crescente sobre a rentabilidade econômica das empresas. Através da engenharia financeira e da recompra de ações, este fenômeno tem permanecido até agora oculto entre as grandes empresas cotadas em bolsa. Atualmente, os resultados por ação do índice S&P 500 continuam muito próximos dos seus níveis máximos históricos.

Mas a contabilidade nacional destaca que o ritmo de crescimento dos resultados do conjunto das empresas norte-americanas não financeiras tem apresentado uma tendência de abrandamento nos últimos dez anos. Em outubro, o ritmo caiu para -4,9% de -1,1% registado em setembro. O fenômeno é semelhante na Europa. Na China, prevalece a mesma tendência e as estatísticas publicadas em novembro confirmam a redução dos ganhos industriais que começou no início do ano (-10% em outubro, depois de -5% em setembro e -2% em agosto).

“Vai chegar um momento em que os bancos centrais terão que levantar a bandeira branca e desistir do processo de retorno à normalização monetária. Nessa altura, a perspectiva de regresso a uma política de reflação beneficiará os ativos de maior risco”, a previsão da Carmignac foi anunciada um mês depois e 2019 revelou ser um ano muito favorável.

O ano de 2020 promete ser diferente, pois o regresso do otimismo elevou as valorizações dos ativos de risco para níveis sólidos. A bolha ainda não antecipa o seu estouro iminente, mas aumenta os desafios para os mercados em caso de acidente. Também pressupõe que a recessão de ganhos não provocará stress nos mercados de crédito. Por isso é importante pensar em uma gestão de riscos de mercado.

Website: https://www.carmignac.com/en_US

Web Site: