Turismo e religiosidade. Como uma pequena cidade uniu essas duas palavras?

Itaberaba – BA 2/9/2019 –

Ninguém é santificado através de milagres. A santidade é fruto das virtudes, ou seja, daquilo que é a essência da pessoa.

Cidades podem ser economicamente reinventadas por conta do turismo e a baiana Maria Milza, uma mulher atualmente em processo de canonização pelo Vaticano, colocou a pequena cidade de Itaberaba (BA) no circuito do turismo religioso do Brasil.

Viajar é um hábito e uma necessidade muito antiga, e com o passar do tempo gerou um mercado muito lucrativo: o do turismo. Existem muitos tipos de turismo e todos podem ser fontes de renda e meio de circulação de capital: turismo de negócio, ambiental, cultural e até religioso. Atualmente ele pode ser considerado como a maior atividade econômica do planeta, superando setores tradicionais tais como as indústrias automobilística, eletrônica e petrolífera.

Vale lembrar os tempos de escola, quando aprende-se que os primeiros humanos viviam como nômades à procura de comida, calor e segurança. Pelo visto, o que nos restou de herança dessa época foi a segurança.

Há muito tempo os homens já vivem em baixíssimas temperaturas com todos os artefatos tecnológicos que lhe proporcionam conforto e segurança, desde seu computador até sua dispensa de comida, geladeira e fogão. O que restou para a maioria da civilização foi só uma lembrança, de uma passado de aventuras e descobertas de outras regiões e culturas.

Os pesquisadores Taciane Jaluska (graduada em turismo e mestre em teologia pela PUC do Paraná) e Sergio Junqueira (Doutor em Ciencias da Educação pela Uiversitá Pontifícia Salesiana – Roma) afirmam em sua pesquisa publicado pela PPGTUR – Programa de pós Graduação e Turismo (USP), que o turismo é considerado uma das principais modalidades de lazer da sociedade contemporânea. 

“Segundo a OMT (Organização Mundial de Turismo) durante o século XX, 25 milhões de pessoas movimentaram-se por todo o mundo. No ano de 2000 esse número chegou a 680 milhões, na década seguinte subiu para 935 milhões e estima-se que nos anos de 2020 esse número seja de aproximadamente 1,6 milhões de pessoas movimentando o turismo internacional. Esse cenário torna o turismo a principal atividade econômica de muitos países.”

Quem é turista e planeja sua viagem com todo cuidado, sempre acaba encontrando dentro do roteiro uma história mística ou religiosa, um lugar santo, um caminho, uma mesquita, um terreiro, uma igreja. É fato que esses lugares fazem parte das visitações imperdíveis programadas em uma grande viagem. E é exatamente esse nicho do setor turístico, chamado turismo religioso, que vem crescendo, conduzindo e estimulando muito dos comportamentos de alguns viajantes.

No Brasil já existem alguns fenômenos de cidades que tiveram sua economia reinventada por conta de peregrinações, romarias, eventos religiosos e ritualísticos. O estado da Bahia, por exemplo, consagrou seus terreiros como patrimônio cultural. Uberaba (MG), cidade do famoso médium Chico Xavier, recebe por fim de semana mais de 1000 pessoas em visitação à sua antiga moradia. A cidade possui um memorial de 42 mil metros quadrados que recebeu investimento de R$ 4 milhões da prefeitura para sua construção. A cidade de Aparecida do Norte (SP) possui a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, considerada a segunda maior do mundo (menor apenas que a Basílica de São Pedro, no Vaticano) e é o maior centro de peregrinação da América Latina, recebendo anualmente milhões de visitantes, os quais fazem do município um dos principais núcleos turísticos do Brasil. Existem ainda muitas outras cidades do mundo que se transformaram por serem consideradas lugares sagrados, como Santiago de Compostela (Espanha) e Varanasi (Índia).

Nesse contexto Itaberaba, uma pequena cidade no sertão da Bahia, começa aparecer no mapa do turismo religioso do Brasil. Ela traz a história de Maria Milza, uma mulher simples que fazia de sua casa uma espécie de “hotel” para os sofredores e atraia multidões em busca de orações e curas. Mesmo após seu falecimento, em 1993, seu túmulo continua recebendo devotos de vários cantos do Brasil.

Quem conta sua história no livro “Maria Milza – Milagres e Mistérios no sertão da Bahia” é o Padre Gabriel. 

Maria Milza está em processo de canonização pelo Vaticano, mas o principal argumento do livro é a trajetória de uma mulher que levou o Evangelho ao pé da letra e viveu a caridade. Padre Gabriel completa:

“A presença de uma pessoa santa na sociedade é necessária em todas as épocas, porque um(a) santo(a) é aquele(a) que tenta imitar Jesus da melhor maneira possível, ou seja, santo é um ser humano incapaz de fazer o contrário do bem. São estrelas que brilham, de vez em quando, no céu escuro do mundo. A santidade é algo que contagia. Logo, todo aquele que se esforça para ser santo, acaba por atrair pessoas que desejam viver num estilo parecido. “

A canonização é um processo burocrático e lento, são necessárias muitas pesquisas para santificar alguém, pois como explica o autor: 

“A igreja não pode se equivocar ao apresentar alguém como modelo de vida cristã. Contudo, é válido saber que a primeira canonização acontece, não no Vaticano, mas no coração dos fiéis. Todo e qualquer santo, antes de subir aos altares das igrejas, antes teve um altar no coração do povo. Raramente a Igreja canoniza alguém que não seja fonte de devoção popular, antes e/ou depois da morte. No caso de Maria Milza, as pessoas que a conheceram já lhe consideram Santa. Pedem graças e testemunham milagres.”

O livro “Maria Milza – Milagres e mistérios no sertão da Bahia” está em sua segunda edição pela editora Albatroz e Padre Gabriel reconhece que o sucesso está justamente na grandiosidade da biografia de Maria Milza. No livro o autor conta milagres que lhe foram relatados e expõem aos leitores as considerações que a fazem tão especial e capaz de atrair tantos peregrinos à sua humilde casa e ao seu túmulo em Itaberaba, sertão da Bahia.

“O que faz de Mãezinha uma santa, não são os milagres. Aliás, ninguém é santificado através de milagres. A santidade é fruto das virtudes, ou seja, daquilo que é a essência da pessoa. O que fez de Maria Milza uma mulher santa foi a sua caridade, pobreza evangélica e vida de intimidade com Deus. “

Talvez o turismo religioso seja uma boa justificativa para uma viagem. Viajar é uma forma de sair da rotina de trabalho, reencontrar aquela pessoa dentro de cada um que não está mais apegada às tarefas doméstica e profissionais, mas que está aberta ao novo, ao inusitado, a conhecer o que nunca foi visto e a se relacionar com outras culturas. E por que não fazer do seu tempo livre uma proposta de convívio com a fé?

https://editoraalbatroz.com.br/produto/maria-milza-milagres-e-misterios-no-sertao-da-bahia-2a-edicao/

 

Sobre o autor:

Padre Gabriel Vila Verde é Administrador da Paróquia Nossa Senhora da Soledade, em Acupe-Santo Amaro/BA, Diocese de Cruz das Almas. É escritor e conferencista. Dedica parte do seu tempo à evangelização pelas redes sociais.

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