Niterói 13/8/2020 –
Um levantamento recente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e da Sociedade Brasileira de Patologia estima que entre 50 e 90 mil brasileiros deixaram de ser diagnosticados com câncer nos primeiros meses da pandemia do novo coronavírus. Os números são consequência direta de consultas, exames, cirurgias e biópsias não realizadas.
“A pandemia não pode comprometer o diagnóstico e tratamento do câncer infantil. Esse cuidado não pode parar. Considerando a vulnerabilidade imunológica dos pacientes em tratamento, a principal preocupação se volta para as medidas preventivas das instituições que recebem essas pessoas. É fundamental transmitir segurança às famílias em tratamento, por meio do gerenciando de ambientes livres de Covid-19, o que permite dar seguimento às abordagens terapêuticas e acolher os novos diagnósticos sem expor as crianças e seus pais ao risco de qualquer contaminação”, alerta a dra. Giovanna Chinelli, oncopediatra do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN).
Giovanna ressalta que, apesar das recomendações de isolamento, os pais devem valorizar as manifestações e queixas recorrentes ou o surgimento de sinais inesperados, como febre, perda de peso, vômitos ou dores reincidentes; nódulos ou caroços, aumento do volume abdominal e dor sem motivo aparente são condições que impõem a necessidade da avaliação de um médico.
A médica reforça ainda que o diagnóstico do câncer pediátrico enfrenta um grande desafio que foi potencializado com a pandemia: a detecção precoce. “Por se apresentar por meio de sintomas comuns a outras doenças da infância, algumas investigações podem estar sofrendo o impacto do adiamento das consultas e da busca por atendimento emergencial durante o isolamento social”, argumenta Giovanna.
O câncer infantil é a segunda maior causa de morte entre crianças e adolescentes, mas, atualmente, os tratamentos disponíveis são bem efetivos, e as chances de cura chegam a 80% quando a doença é diagnosticada precocemente e tratada em um centro especializado capaz de oferecer equipe capacitada e ambiente adequado para o acolhimento dos casos e suas peculiaridades.
“Ainda que o diagnóstico precoce seja o primeiro grande passo do sucesso do tratamento, seguir protocolos reconhecidos e cumprir rigorosamente os intervalos propostos conduzidos por uma equipe especializada assegura que os resultados sejam atingidos de forma eficaz”, reforça Giovanna Chinelli
A médica alerta ainda que as crianças e os adolescentes que já estão em tratamento não podem interrompê-lo e, para isso, a adequação da estrutura hospitalar a condições extremas, como a da pandemia da Covid-19, tornou-se grande aliada do paciente oncológico, que consegue cumprir a programação ideal de sua terapêutica, apesar dos tempos difíceis. “Nós todos sabemos que tudo isso vai passar, mas o câncer e o paciente oncológico não podem esperar. Nesse momento, proporcionar segurança e minimizar a exposição ao risco de contaminação é o melhor que se pode oferecer ao paciente”, finaliza Giovanna.