Arie Halpern: centros urbanos se revitalizam com economia criativa

23/9/2020 – Muitas das grandes cidades do mundo haviam testemunhado nas últimas décadas do século 20 uma acentuada decadência em suas regiões centrais.

As “cidades inteligentes”, das quais tanto se fala, não são apenas as mais conectadas e que informatizaram serviços como coleta de resíduos, orientação do trânsito, abastecimentos de água e de energia ou atendimentos de saúde. São as que, além disso, entenderam qual é a sua vocação para o futuro.

As “cidades inteligentes”, das quais tanto se fala, não são apenas as mais conectadas e que informatizaram serviços como coleta de resíduos, orientação do trânsito, abastecimentos de água e de energia ou atendimentos de saúde. São as que, além disso, entenderam qual é a sua vocação para o futuro. As décadas industriais baseadas no modelo de transporte industrial deixaram legados problemáticos aos centros urbanos. Mas há um movimento bastante claro para lidar com eles de uma forma mais saudável.

As perspectivas mais efetivas vêm tanto do investimento público e privado quanto da mudança de mentalidade. As cidades que apostaram em atividades da economia criativa, como design, artes cênicas, produção em audiovisual, programação de softwares inovadores, música, educação complementar, lazer e convivência, saíram à frente nessa retomada. Pequenas empresas com novas formas de gestão mais jovens e permeáveis invadiram os espaços urbanos centrais, antes decadentes, de metrópoles europeias e norte-americanas, e isso agora começa a se tornar tendência também no Brasil.

Muitas das grandes cidades do mundo haviam testemunhado nas últimas décadas do século 20 uma acentuada decadência em suas regiões centrais. Essa onda de abandono dos centros históricos estava diretamente ligada à difusão do meio de transporte individual. Com a popularização do modelo automotivo, o interesse do mercado imobiliário havia migrado para regiões mais afastadas, com mais terrenos livres, e o poder público se encarregou então de produzir vias expressas, que terminaram por segmentar as áreas centrais e torná-las, por fim, lugares mais de passagem do que de estadia.

Agora, alguns dos países que adotaram com mais ênfase esse modelo adquiriram uma nova consciência de que o sucesso econômico e a qualidade de vida das metrópoles está relacionada à revitalização e à recuperação de seus centros históricos. Uma das experiências pioneiras aconteceu em Boston, com a substituição de vias expressas por túneis, ainda nos anos 1990, e uma reocupação da área central que acabou por resgatá-la como uma das cidades mais vibrantes dos Estados Unidos. Mais recentemente, no Brasil, para receber os jogos olímpicos, o Rio de Janeiro revitalizou sua região portuária eliminando a via elevada que a separava da Guanabara. Enquanto isso, em São Paulo, esta semana, a Câmara Municipal aprovou a convocação de um plebiscito para decidir o destino do Minhocão: demolição ou transformação em parque suspenso.

Embora ajude a melhorar o ambiente, a retirada das grandes vias elevadas de concreto não é resposta para tudo. Em São Paulo, por exemplo, há 779 imóveis abandonados no centro, a maior parte deles comerciais, que perderam atrativos para regiões mais modernas, como a Berrini. Esse, sem dúvida, é um desperdício inconcebível de recursos. Como fazer com que essa ocupação seja mais racional, e se utilize de lugares onde já há infraestrutura de transportes, comunicação e, assim por diante, é um desafio que deve ser encarado com energia e otimismo.

Eventualmente, a retomada pode incluir grandes reformas e demolições, mas ela passa antes de mais nada por uma nova mentalidade, com perspectiva de convivência mais próxima em escala humana, com a aceitação das diferenças e com inclusão. Porque é isso afinal que trará, além de qualidade de vida, também respostas econômicas adequadas.

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