Arie Halpern: soluções e dependência; o dilema do domínio das big techs

23/12/2020 – A pane que afetou o Google e deixou os diversos serviços da gigante de tecnologia fora do ar ou com instabilidade em vários países do mundo fez acender mais uma

Falha do Google acende luz amarela sobre dependência criada pelas big techs.

A pane que afetou o Google e deixou os diversos serviços da gigante de tecnologia fora do ar ou com instabilidade em vários países do mundo fez acender mais uma vez a luz amarela para a concentração e a dependência criada pelas grandes empresas de tecnologia.

Serviços como Gmail, Calendar, Google Drive, YouTube, Google Assistant e Google Home, largamente usados para agendar compromissos, realizar reuniões, enviar mensagens e documentos e controlar a iluminação e a temperatura internas, entre outros, simplesmente ficaram inoperantes. De acordo com a empresa, uma falha no sistema de autenticação devido a um problema na cota de armazenamento interno afetou os serviços durante 45 minutos.

Em alguns países, há relatos de que a falha perdurou por mais tempo. A duração do problema, no entanto, não é o ponto central. Sem poder realizar tarefas profissionais ou pessoais, se comunicar ou mesmo acender as luzes da sala, quando as pessoas estão acostumadas a fazer várias atividades ao mesmo tempo, usando diferentes serviços e dispositivos, poucos minutos seriam suficientes para causar alarme.

Alguns números dão uma ideia da dimensão desse fato. O DownDetector, um serviço on-line de monitoramento e detecção de falhas em tempo real registrou mais de 100.000 usuários com problemas para acessar o YouTube.

A extensão da falha, que revelou o substancial volume de atividades on-line que pode ser interrompido por um problema em uma única empresa, trouxe à tona o evidente risco subjacente à concentração digital. A dependência da tecnologia cresceu muito e os investimentos em testes de qualidade e confiabilidade não aumentaram na mesma proporção. Isso talvez seja um importante gap a ser preenchido.

Concentração no alvo dos reguladores

Poucos dias antes da interrupção nos serviços do Google, um dos data centers da Amazon, na Virgínia, apresentou falha durante uma hora e meia. O problema afetou não apenas os usuários da empresa, mas também vários outros serviços e websites que usam o sistema de computação em nuvem AWS. Essas falhas fizeram com que muitas pessoas percebessem o quanto dependem de uma empresa para realizar tarefas básicas do dia a dia.

O questionamento em torno da concentração das gigantes de tecnologia está também no alvo de autoridades reguladoras em vários países. Na semana passada, a Comissão Federal do Comércio dos Estados Unidos (Federal Trade Comission) e 46 estados americanos abriram processos contra o Facebook por violar as regras antitruste com a aquisição do WhatsApp e do Instagram. Esta é a segunda acusação que as autoridades regulatórias norte-americanas fazem este ano a uma empresa do Vale do Silício. Recentemente, o governo apresentou queixa contra o Google por acordos que excluem concorrentes do negócio de buscas.

A pandemia da covid-19 deixou claro para todos que a conectividade e a mobilidade proporcionadas pelas plataformas e serviços em nuvem são importantes e foram substanciais para manter a atividade e a produtividade. Muitos negócios cresceram ou sobreviveram graças às plataformas digitais de serviços e de comércio eletrônico disponibilizadas justamente por empresas como Google e Amazon, entre outras. Foram elas que possibilitaram o ecossistema digital que minimizou os efeitos da pandemia.

A questão dos limites da dependência põe a sociedade diante de um dilema cuja solução exigirá de toda a população uma profunda e ponderada reflexão para minimizar não somente a ocorrência, mas a extensão e os efeitos delas em suas vidas.

Website: http://www.ariehalpern.com.br/solucoes-e-dependencia-o-dilema-do-dominio-das-big-techs/

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