Como introduzir um alimento novo na dieta da criança?

São Paulo-SP 22/4/2013 – Em todas as situações que envolvem novidades para crianças (que não seja brincar) é importante entender e ‘trazer a criança para dentro do processo’. Essa atitude pode modificar esse panorama de forma significativa

Uma das grandes dificuldades relatadas pelos pais em consultas pediátricas é a difícil aceitação de novos alimentos por grande parte delas. Muitas são as estratégias utilizadas nessas tentativas, grande parte delas inadequadas: forçar, deixar passar fome, transformar a hora da refeição na “hora do horror”…

“Em todas as situações que envolvem novidades para crianças (que não seja brincar) é importante entender e ‘trazer a criança para dentro do processo’. Essa atitude pode modificar esse panorama de forma significativa”, recomenda o pediatra Moises Chencinski (CRM-SP 36.349)

“Levar a criança à feira ou ao mercado, deixar que ela toque, cheire, experimente cada alimento pode trazer resultados excelentes”, diz o médico.

Alguns estudos recentes, mais ousados, apontaram uma iniciativa na escola que, apesar de algumas restrições econômicas, educacionais e sociais, pode ser um primeiro passo no caminho da alimentação saudável na infância.

Pesquisadores australianos encontraram um maior interesse em experimentar novos alimentos em crianças do ensino elementar que plantaram, colheram e cozinharam dentro de uma programação orientada de jardinagem e de culinária na escola.

Um estudo comparativo, neste sentido, foi publicado no Journal of Nutrition Education and Behavior, comparando 6 escolas com programa de jardinagem e culinária com outras 6 que tinham jardins nos pátios escolares, mas sem uma programação específica. Os dados foram colhidos de 764 crianças com idades entre 8-12 anos e 562 pais nas 12 escolas australianas. O impacto do programa foi avaliado durante um período de 2 anos e meio.

O programa previa que em toda semana do período letivo, as crianças passariam de 45 a 60 minutos em uma aula de jardinagem e 90 minutos em uma aula de culinária. A intenção seria observar o impacto dessas aulas na vontade das crianças experimentarem novas comidas, na sua capacidade de descrever as refeições e na alimentação saudável desses dois grupos.

Um especialista em jardinagem orientou a plantação de uma grande gama de vegetais (coentro, cebolinha, favas, acelga e frutas incluindo morango e pêra). Um especialista em arte culinária (culinarista) acompanhava a elaboração de almoços usando ervas frescas e os produtos colhidos na horta escolar.

As crianças preparavam, cozinhavam e compartilhavam os alimentos novos com seus colegas de classe semanalmente. Durante essas refeições, elas eram estimuladas a experimentar alimentos novos em pratos tradicionais como massas, saladas e tortas, mas sem nenhuma pressão.

Além disso, esses temas foram incluídos no currículo escolar para que as crianças medissem as plantas e avaliassem seu crescimento, escrevessem sobre o tempo que passavam nos jardins (como tarefa das aulas de inglês) e aprendessem a identificar as plantas nas aulas de ciências.

Os resultados das pesquisas mostraram uma diferença significativa nos relatos das crianças, dos pais, dos professores e na vontade de experimentar novos alimentos no grupo submetido ao programa, estendendo sua influência na qualidade (lanches mais saudáveis trazidos de casa e melhores opções no almoço), mas não na quantidade da refeição.

O estudo concluiu que esse programa pode ser uma forma de fazer as crianças compreenderem melhor de onde chegam os alimentos que eles comem, além de plantar uma semente precoce em suas habilidades de jardinagem e de arte culinária.

“A mudança dos hábitos alimentares das crianças, transformando a rejeição em aceitação e até mesmo na apreciação de novos alimentos começa pelo primeiro passo. E esse primeiro passo pode ser a instituição de programas semelhantes nas escolas”, observa o pediatra.

Para Moises Chencinski, “esta mudança de hábitos tão necessária pode e deve começar o quanto antes, quer seja em casa ou na escola, mas com a participação da família, da sociedade e com o apoio do governo e da mídia, para que possamos retomar um caminho de saúde, que começa pela alimentação equilibrada e saudável, desde cedo”.
“Neste longo caminho, certamente o aleitamento materno, desde a primeira hora, exclusivo, até o 6º mês de vida, em livre demanda, estendido até 2 anos ou mais é o ‘pontapé inicial’ desse jogo da vida”, diz o médico que também é autor do blog Mama que te faz bem.

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