Brasília DF 28/12/2020 – Para a ginecologista e presidente da SBRA, Hitomi Nakagawa, “independentemente das razões por trás da escolha da mulher, a gravidez tardia é uma possibilidade”
Dados divulgados pelo IBGE neste mês apontam o aumento da faixa etária em que as mulheres têm filhos na última década.
O número de mulheres brasileiras que se tornaram mães após os 35 anos aumentou. É o que revelam os dados divulgados neste mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 10 anos, a quantidade de mães com menos de 15 anos de idade que deram à luz caiu 26,3%. Em compensação, as gestações entre 35 e 39 anos aumentaram 63,6%. Entre os 40 e 44 anos de idade, a alta no número de partos foi de 57% e na faixa etária dos 45 aos 49 anos, de 27,2%. Já entre as mulheres com mais de 50 anos de idade, a alta foi de 55%.
Segundo médicos da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), os principais motivos para o adiamento da gestação apontados pelas mulheres que chegam em seus consultórios são a escolha do parceiro certo para constituir uma família, busca por estabilidade financeira e maturidade para conceber um filho, além de novos relacionamentos.
Para a ginecologista e presidente da SBRA, Hitomi Nakagawa, independentemente das escolhas por trás dessa mudança, é de fundamental importância que essas mulheres estejam informadas de que a chance de poder engravidar mais tarde, com uma vida profissional e financeira mais estabilizada, pode vir acompanhada de um problema: a queda da reserva ovariana. “Isso reflete no resultado dos procedimentos, uma vez que a quantidade e qualidade dos óvulos nessa faixa etária já está mais comprometida. O tratamento não é impossível, mas tem maior risco de abortamento e a chance de engravidar por transferência mesmo nos tratamentos de reprodução assistida demora mais, exceto quando a paciente faz estudo genético do embrião”, afirma.
Além disso, os riscos na gravidez impactados pela idade da mãe podem gerar maiores índices de complicações gestacionais, o que requer um acompanhamento profissional mais intensivo nas mulheres a partir dessa idade. “Por isso, é fundamental estar informada sobre os reais benefícios que a reprodução assistida pode alcançar para aquela mulher que deseja postergar a gestação e ter bebês com o seu material genético”, diz.
No caso de mulheres que desejam conceber após os 40 anos, os cuidados devem ser ainda maiores. “Embora existam exceções, infelizmente as técnicas de reprodução assistida não se destacam tanto em relação às chances de concepções espontâneas que resultam em nascidos vivos sadios após os 43 anos. O Conselho Federal de Medicina (CFM) estipula 50 anos como a idade limite para que uma mulher seja submetida a técnicas de reprodução assistida”, ressalta Manoela Porto, médica certificada pela SBRA.
De acordo com a médica, a gravidez tardia também aumenta o risco das síndromes cromossômicas, ou seja, a saúde do bebê também pode ser afetada. “Além das medidas aplicadas a todas as gestantes, as mães mais maduras devem ter uma vigilância mais precoce pelo risco aumentado de aborto e gestação fora do útero, rastreamento e aconselhamento para o risco de síndromes cromossômicas e intervenções para diminuir riscos como diabetes e pré-eclâmpsia (hipertensão que ocorre durante a gestação)”, diz.
A ginecologista ressalta que para muitas mulheres com idade reprodutiva avançada, a reprodução assistida só terá êxito se recorrerem a óvulos doados por mulheres em idade mais jovem, conclui a médica.
Informação e acolhimento – Foi justamente pensando nessas mulheres que passaram dos 35 anos e desejam ser mães, que a jornalista Aline Dini criou o projeto Mãe aos 40. O foco do perfil é informar sobre os prós e contras de encarar a maternidade na maturidade, por meio de entrevistas semanais com especialistas. O veículo também apresenta toda semana histórias de mulheres que se tornaram mães na faixa dos 40 anos, pelos mais variados meios (gestação natural, ovodoação, barriga solidária e adoção), e acolhe as mulheres que estão passando por dificuldades de engravidar ou já sofreram abortos espontâneos. Com a curadoria de conteúdo que já dura 7 anos, a jornalista Aline Dini criou recentemente o curso Fertilidade na Maturidade, que conta com 8 profissionais especializados em fertilidade para ajudar as mulheres a entenderem seus corpos e também a lidarem com as emoções envolvidas nessa fase de espera por um filho.
RISCOS PARA MÃES ACIMA DE 35 ANOS
Aborto espontâneo: no geral, o risco ocorre em cerca de15 % das gestações em mulheres com menos de 35 anos. Mas, entre 35-39, este risco aumenta para 25%, entre 40-44 anos para cerca de 50% e, após 45 anos, para mais de 90%.
Gestação ectópica (fora do útero): esse risco aumenta de quatro a oito vezes mais após os 35 anos.
Hipertensão arterial: o risco de desenvolver hipertensão é duas a quatro vezes mais alto após os 35 anos.
Pré-eclâmpsia: o risco de desenvolver pré-eclâmpsia é de 3% nas gestações em geral. Esse risco aumenta para cerca de 10% após os 40 anos e 35% após os 50 anos.
Diabetes mellitus: o risco de desenvolver diabetes na gestação é de cerca de 3%, mas aumenta de duas a quatro vezes após os 35 anos.
Anormalidades da placenta: após os 40 anos existe risco aumentado para o descolamento prematuro de placenta e a implantação baixa da mesma.
RISCOS PARA O BEBÊ DE MÃES ACIMA DE 35 ANOS
Síndromes cromossômicas: riscos aumentados de anormalidades cromossômicas como a síndrome de Down. Aos 30 anos, o risco de ter um bebê com esta síndrome é de cerca de 0,1%. Esse risco aumenta em três vezes aos 35 anos e cerca de 20 vezes aos 40 anos.
Malformações: mesmo em bebês sem anormalidades cromossômicas existe um risco aumentado para malformações, sendo as alterações cardíacas as mais prevalentes.
Baixo peso ao nascer e prematuridade: o risco destas condições pode aumentar em até duas vezes após os 35-40 anos.
Óbito fetal intrauterino sem causa aparente: esse risco tem um sensível aumento após os 37 anos.
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