Heróis da Comunidade | Yvonne Bezerra “Isto é uma escola, não atire”

S PAULO 16/1/2020 – “São projetos como esse que mostram que é possível que toda e qualquer área do Brasil contem com educação de qualidade… ” Victor Santos, co-founder banQi

Uma chacina, um sequestro de ônibus, pobreza e como a educação pode moldar o futuro das crianças. Todas essas palavras e histórias estão ligadas a Yvonne Bezerra de Mello, a responsável pelo Projeto Uerê, uma das ações que faz parte do projeto Heroes of the Community (Heróis da comunidade) que o banQi, banco* digital, que investe em formação e educação para pessoas de baixa renda, contempla. banQi convidou pessoas dentro de comunidades de todo o brasil para mostrar suas histórias e como mudaram a realidade ao seu redor. A série Heroes of the Community é publicada em todas as plataformas do banQi, para incentivar doações ao redor do mundo.

Yvonne constrói uma ponte sobre o abismo todas as manhãs, enquanto se dirige, sozinha, a uma área que o carioca comum não visitará durante toda a vida – uma favela, ou como hoje é mais polidamente chamada comunidade de favela. Para a maioria das pessoas de classe média do Rio, uma favela é a realidade mais próxima e mais distante que existe. O mesmo acontece na direção oposta. Os habitantes das favelas do Rio, embora fisicamente próximos a bairros ricos, sentem-se tão distantes dos serviços públicos mais básicos que se referem a lugares como Ipanema ou Copacabana não como “praia”, mas como “asfalto”, a palavra para uma estrada asfaltada, simbolizando a civilidade básica e os bens modernos dos quais eles foram privados.

Uma breve visita a uma favela do Rio revela a ausência do que se costuma dar como certo: estradas pavimentadas, hidrantes, bueiros, água encanada, esgoto adequado, escolas, áreas de esportes e entretenimento, entrega de gás de cozinha, eletricidade, correio. Alguns desses serviços existem, mas raramente são fornecidos pelo estado ou por empresas de serviços públicos – o vácuo é preenchido por gangues criminosas ou grupos de policiais desonestos, conhecidos no Rio como “milicianos”. Eles cobram taxas mensais por “proteção” e determinam que coisas como gás de cozinha sejam sempre compradas do mesmo fornecedor. Em outras palavras, viver em uma favela significa viver com medo.

Alguém poderia argumentar que a pior coisa que acontece em uma favela não é uma morte prematura, mas uma vida vivida com medo. Uma nota gigante no telhado de Uerê ilustra como a vida foi desvalorizada nessas terras e como é fácil perdê-la. O aviso “escola, não atire”, uma mensagem provavelmente destinada à polícia, o único lado que possui helicópteros e atira deles. É difícil compreender como as crianças podem prosperar nesse ambiente, mas elas o fazem, e Uerê e outras iniciativas não-governamentais têm sido críticas para isso.

Yvonne Bezerra de Mello ficou conhecida em 1993, quando algumas das crianças de rua que ela ensinava – nas ruas, debaixo da ponte – se tornaram vítimas da notória Chacina da Candelária, o assassinato de oito jovens, algumas com apenas 11 anos, perpetradas por um grupo que incluía membros das forças policiais. Anos mais tarde, Yvonne voltou às manchetes quando um dos sobreviventes do massacre, já era adulto, manteve vários passageiros de ônibus como reféns por horas, com toda a ação sendo transmitida ao vivo pela TV, um evento midiático estressante que terminou com a morte do criminoso e uma de suas reféns, ambos pela polícia. A história do ônibus 174 acabou virando filme e documentário.

 

Hoje, Yvonne tenta proporcionar às crianças algumas das condições necessárias para uma vida feliz, que vão além da segurança e do esgoto: conhecimento, nutrição e o instrumento mais intangível e inestimável de satisfação, a capacidade de sonhar. É por isso que Uerê não apenas fornece três refeições saudáveis por dia para todas as quase 400 crianças e jovens matriculados ao mesmo tempo, em todas as idades de seis a 18 anos, mas também fornece algumas das outras coisas necessárias para mantê-las confiantes, orgulhosos e preparados, como a capacidade de enunciar os pensamentos com eloqüência, tocar um instrumento, conhecer as capitais do mundo, falar uma língua estrangeira. 

 

Isso já foi feito para 7 mil crianças até agora. Um dos bons exemplos dessa história é de um garoto de 15 anos que chegou a Uerê anos atrás quase incapaz de dizer uma palavra em público. Agora ele toca violão e carrega o orgulho de um garoto que sabe que tem talento. Esse é outro presente recusado à maioria das pessoas nascidas em uma favela – a crença na mobilidade social. Ver aquele garoto com orgulho e autoconfiança foi outro milagre realizado pelas Yvonnes deste mundo, que acreditam que todo mundo tem seu valor.

 

Uerê é mantido com a ajuda de algumas empresas, doadores privados e a condenação contagiosa de Yvonne Bezerra de Mello, que inventou o método pedagógico Uerê-Mello, escolhido pelo UNICEF como um dos seis mais eficientes em zonas de guerra. Mas, apesar desse reconhecimento, Yvonne ainda luta para manter Uerê funcionando. Isso é ainda mais perturbador, porque Uerê é um projeto – como a maioria dos bons projetos em educação – que pode eventualmente economizar muito dinheiro para os contribuintes em custos de saúde, educação e crime. Mais do que isso, escolas como Uerê – verdadeiros paraísos de normalidade, calma e aprendizado no meio de uma das áreas mais violentas do Rio – às vezes são a única chance que essas crianças terão de uma infância enriquecedora e totalmente formativa.

 

“São projetos como esse que mostram que é possível que toda e qualquer área do Brasil contem com educação de qualidade, que efetivamente muda a vida de jovens, os levando a ficar cada vez mais longe do crime. O banQi, com o Heroes of the Community, tenta mostrar a todos que essas ações existem e são eficazes na luta em prol da cultura e de um maior acesso para as comunidades carentes”, diz Victor Santos, CEO e co-founder do banQi.

 

 

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