Ilhas de excelência colocam o Brasil em segundo lugar em transplante de córneas, mas a assistência ainda é para poucos

Rio de Janeiro, RJ 1/7/2013 – É essencial termos Bancos de Olhos, mas também é preciso que as pessoas tenham acesso ao oftalmologista.

Embora o Brasil possua um dos maiores programas públicos de transplante de córnea, a situação na maioria dos estados ainda preocupa. “Cidades como São Paulo e Sorocaba não têm mais fila de espera. A captação e a presença de equipes e centros especializados suprem a necessidade. Mas, no outro extremo, estão Rio de Janeiro e Bahia, os dois piores estados e onde o tempo de espera pode ultrapassar cinco anos”, informa o oftalmologista Bruno Fontes, membro da comissão científica dos Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia. Os eventos ocorrem de 7 a 10 de agosto no RioCentro (Rio de Janeiro) e vão abrigar o 1º Simpósio Mundial de Banco de Olhos, realizado pela Aliança Mundial de Bancos de Olhos e a Associação Pan-Americana de Bancos de Olhos (APABO).

Dentre os fatores que contribuem para o atual cenário estão a falta de financiamento público, centros cirúrgicos com equipamentos e produtos adequados, profissionais motivados – já que não há plano de carreira para a área, a remuneração é muito baixa e as condições de trabalho muito abaixo do adequado na maioria dos locais – e, principalmente, a burocracia intransponível. “São condições que dificultam demais a criação de novos bancos e a formação de equipes preparadas para atuar em todas as etapas da assistência”, explica Fontes. “A questão dos doadores não é nem de longe o maior problema. Só que faltam profissionais para abordar as famílias e, em muitos estados, médicos para fazer a cirurgia”, avalia.

Presidente Internacional da APABO, Luciene Barbosa de Souza acrescenta: “É essencial termos Bancos de Olhos, mas também é preciso que as pessoas tenham acesso ao oftalmologista. Nossa rede de assistência básica na área é precária na maioria dos estados, e apenas alguns pacientes chegam a saber que a cirurgia pode melhorar seu problema”, afirma.

Procedimento

O transplante é recomendado nos casos de patologias como ceratocone, ceratopatia bolhosa e distrofia de Fuchs. A primeira, aliás, uma das principais razões para o aumento de procedimentos no País. Trata-se de uma distrofia contínua e progressiva, que ocorre na córnea que apresenta afinamento central ou lateral, geralmente inferior, resultando na córnea em forma de cone. A disfunção afeta mais de nove milhões de brasileiros, número que corresponde a 5% da população.

Ao contrário do que acontece com órgãos como coração, fígado e rins, a córnea pode ser doada tanto em caso de morte encefálica quanto de parada cardíaca. Após a abordagem da família por um profissional do Banco de Olhos e a obtenção da autorização por escrito, é providenciada a coleta se sangue para a realização de exames que indicarão a viabilidade do órgão. Quando devidamente armazenadas pode-se aguardar até 14 dias para o transplante.

A doação de córneas é fundamental para que muitas pessoas possam recuperar a visão. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos o número de procedimentos aumentou de 12.788 para 15.281 entre 2010 e 2012, ou seja, um crescimento de 20%. E, de acordo com dados do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, o Brasil ocupa o segundo lugar em volume de cirurgias no mundo.

A experiência do país e a excelência da oftalmologia brasileira contribuíram para que o 1º Simpósio Mundial de Banco de Olhos ocorra durante os Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia. “Contaremos com um espaço para 300 participantes e vamos discutir a padronização de condutas nos bancos de olhos em todo o mundo”, explica a Presidente Internacional da APABO. O simpósio será realizado nos dias 8 e 9 de agosto. Na programação também estão temas como as novas técnicas cirúrgicas, engenharia de tecidos e engenharia genética e a córnea artificial.

Novas técnicas

As técnicas de transplante de córnea apresentaram grandes avanços ao longo dos últimos anos que, aliados a descoberta de novos produtos e medicamentos, diminuem o índice de possíveis complicações relacionadas ao procedimento tais como risco de rejeição e infecções. Por isso as novas técnicas, menos invasivas e que possibilitam recuperação mais rápida, serão o grande destaque também nos Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia. “Os transplantes lamelares são um grande avanço para determinadas patologias. Neles somente a camada doente é retirada e trocada por uma sadia. Não há mais necessidade de fazer a troca da córnea por inteiro em determinadas patologias. Dessa forma a integridade e resistência do globo ocular são mantidas, há muito menos chance de rejeição e a recuperação visual também é mais rápida”, explica Bruno Fontes.

Congressos vão reunir cerca de oito mil especialistas

Profissionais que atuam em oftalmologia em todas as Américas estarão reunidos no Rio de Janeiro entre os dias 7 e 10 de Agosto. Os Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia são organizados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) em parceria com a Associação Pan-Americana de Oftalmologia (PAAO), e serão realizados de forma compartilhada e única no Riocentro.

Paulo Dantas, secretário geral dos congressos, adianta que a programação científica será dividida em 18 salas onde ocorrerão simpósios, painéis e solenidades especiais coordenados por profissionais dos três idiomas (português, espanhol e inglês). “O evento conta com as participações de 500 palestrantes estrangeiros já confirmados representando 20 países e 700 brasileiros”, informa.

SERVIÇO:
Congressos Brasileiro e Pan-Americano de Oftalmologia
Data: de 7 a 10 de agosto de 2013.
1º Simpósio Mundial de Banco de Olhos
Data: 8 e 9 de agosto de 2013
Local: Riocentro – Rio de Janeiro
Site: www.congressocbo.com.br

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