Mulheres começam a ocupar as estradas: 10% dos motoristas de caminhão são caminhoneiras

São Paulo, SP. 19/11/2020 –

As mulheres já ocupam espaço em quase todos os campos de trabalho antes exclusivamente masculinos e isso vêm acontecendo também nas estradas com as caminhoneiras. No entanto, dirigir um veículo pesado Brasil afora tem sido o menor desafio que elas encontram na profissão.

Segundo conta a Rosângela, “pegou amor” por caminhão quando trabalhava em uma usina com um veículo canavieiro e de lá pra cá buscou realizar o sonho de dirigir pelas estradas. Há alguns meses conseguiu.

De acordo com a caminhoneira, dentre as maiores dificuldades da profissão está a que diz respeito à família. Ficar longe dos filhos é difícil, mas ela garante que essa luta diária tem o firme propósito de levar o melhor para eles. O sonho agora é ter o próprio veículo de cargas. “Quando eu olho o tamanho do caminhão me sinto muito orgulhosa do que eu faço, é bem gratificante. Eu amo a minha profissão!”, afirma.

Ainda é pequeno o número de mulheres com a coragem de Rosângela para enfrentar as estradas sozinha, conduzindo um veículo de 50 toneladas. A pesquisa “Perfil dos Caminhoneiros 2019”, publicada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), por exemplo, é uma boa amostra. Entre os que responderam, 99,5% eram do sexo masculino, enquanto as mulheres representaram 0,5% da comunidade. Como os caminhoneiros na ativa somam algo em torno de dois milhões, não fica difícil estimar que pelo menos 10 mil condutoras fazem do transporte de cargas. 

Apesar da quantidade ainda tímida de caminhoneiras nas estradas brasileiras, esse número só tende a crescer cada vez mais. Segundo informações do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), em 2017 mais de 182 mil cidadãs já estavam habilitadas a dirigir caminhões no país. 

Outra mostra de que o interesse pelo setor de transportes é grande entre as mulheres é o projeto Primeira Habilitação para o Transporte, lançado há alguns anos pelo SEST SENAT (Serviço Social do Transporte (SEST), Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT). 

Com o objetivo é fornecer a primeira Carteira Nacional de Habilitação (CNH) a 50 mil jovens em todo o Brasil, a fim de qualificar mão de obra para o setor, dos 132 mil inscritos na iniciativa, 44,7% eram do sexo feminino, o equivalente a 33 mil pessoas. No momento, o projeto não tem previsão de abertura de novas vagas.

Cotidiano difícil

A vida nas estradas não é fácil, principalmente para as mulheres. Os motoristas ajudam, mas ainda torcem o nariz quando veem um “caminhão de menina” chegando para abastecer. É verdade que da falta absoluta de banheiros femininos nos postos de parada para caminhões na década de 1950, motivada pela inexistência de mulheres na profissão, até os dias de hoje muita coisa mudou. Que o diga Nahyra Schwanke, a caminhoneira mais antiga do Brasil, hoje com 91 anos, de acordo com o portal Estadão. Ela conta que tinha de usar banheiros masculinos e pedir aos funcionários do posto que não deixassem ninguém entrar. 

Foi a partir dos anos 1980 que começou a surgir um número maior de mulheres ingressando na vida de caminhoneira, certamente atraídas pelas melhores condições das estradas e a chegada de caminhões mais modernos. Com esse movimento, a situação dos locais de parada melhorou, embora ainda haja muita falta de estrutura de necessidades primárias nas estradas. E elas se adaptaram. Sempre atentas à segurança, aprenderam a calcular as paradas no trajeto, principalmente se já foram vítimas de roubo de carga, e a se protegerem de assédio e violência sexual. 

Na verdade, o cotidiano das caminhoneiras é marcado pela superação. Afinal, quem decide levar a vida na estrada precisa de força física para dar conta do serviço e das manobras com a máquina pesada. Mas engana-se quem pensa que elas não dirigem bem. Na verdade são consideradas mais atentas ao volante que os homens, mais cuidadosas com as mercadorias, além de terem maior empatia com a clientela.

Por essas e outras, muitas empresas contratam essas motoristas e assim conseguem diminuir a frequência de multas. A economia é considerável e o passo importante no sentido contrário ao da discriminação. Em alguns casos, porém, o preconceito chega a afetar as ofertas de trabalho e até fazer uma caminhoneira ser ignorada ao competir com um homem por uma proposta de frete

A dupla jornada, realidade de muitas mulheres, não é diferente com as caminhoneiras, que precisam acompanhar o que acontece dentro de casa, cuidar do andamento das coisas e dos filhos. Tudo isso torna o afastamento, mesmo temporário, mais difícil e faz com que algumas só aceitem viagens mais próximas. Mas, como diz Jucilene, que transporta grãos, a vontade de voltar à estrada fala mais alto. “É cada lugar que a gente conhece, as pessoas não têm ideia do que tem pelo Brasil. Apesar de todas as dificuldades, vale a pena ser caminhoneira”, garante.

Na estrada do futuro

Ainda que as caminhoneiras sejam minoria no setor de transportes brasileiro, é possível perceber que isso vem mudando. Há muitas mulheres que desejam explorar novas profissões, o que promete aumentar a representatividade de condutoras. Afinal, a atuação dessas profissionais é fundamental e também colabora para fazer girar a economia do país

Com a preparação adequada, torna-se mais simples enfrentar os obstáculos das rodovias e do mercado de trabalho, como o medo da não aceitação de colegas e contratantes, que podem influenciar na procura de profissionais para seguir carreira como motorista de caminhão. 

Na era da transformação digital nas estradas, as caminhoneiras estão sempre na internet, algumas são blogueiras e muitas utilizam plataformas de fretes, como a FreteBras, para encontrar trabalho por esse Brasil, via aplicativo. Assim ficam plugadas a mais de 10 mil empresas transportadoras que publicam em torno de 600 mil fretes por mês. Uma “mão na roda” para elas, inclusive para o frete de retorno.

No início, a rotina de uma caminhoneira pode parecer um pouco difícil, assim como acontece em qualquer profissão. Os caminhões não são brinquedos fáceis de lidar e isso pede tempo e dedicação. Superado esse período, no entanto, as mulheres podem fazer bonito nas estradas ao volante de qualquer veículo pesado. 

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