São Paulo, SP 31/10/2019 –
O paciente com câncer exige cuidados e tratamentos específicos. Porém, ele pode passar por uma situação de emergência como qualquer pessoa, saudável ou não – quem está livre de um tombo, um acidente de trânsito, um corte profundo? E a questão é: a Saúde dos municípios brasileiros não está preparada para lidar com as emergências oncológicas.
“Quem faz emergência no Brasil hoje são médicos generalistas, clínicos ou cirurgiões, e não necessariamente um profissional com conhecimento centrado no paciente oncológico. Porém, ele é o profissional que fará esse primeiro atendimento. E se você não tem treinamento para realizar o atendimento destes pacientes, certamente se angustiará: não vou me envolver em um atendimento que pode ter consequências sérias, porque não sei o que fazer com isso”, afirma Dra. Veruska Menegatti Anastácio, chefe da equipe médica do Centro de Atendimento de Intercorrências Oncológicas (CAIO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).
Ela explica que muitos pacientes recorrem ao ICESP e acabam direcionados ao CAIO por motivos que poderiam ser evitados: “Além da própria insegurança do paciente, há o fato de que outros serviços, inclusive os locais, dos bairros, da periferia, do interior, temem atender uma situação de emergência no paciente com câncer, exatamente porque têm receio de agir. Muitas vezes, esse paciente sequer recebe o primeiro atendimento de pronto-socorro ao informar que é portador da doença, e isso não precisaria ser assim. Ele poderia, sim, ser atendido ali se os profissionais não ficassem dominados pela angústia, pelo receio”, explica.
A insegurança do paciente é ensinada pelo próprio sistema de Saúde; uma vez que procura um hospital geral para algo não diretamente relacionado ao câncer e é imediatamente informado que deve procurar o serviço especializado, esse paciente entende que não deve mais procurar o serviço geral. No caso de um infarto, por exemplo, ele poderia receber os primeiros socorros em qualquer endereço, mas corre o risco de falecer enquanto busca o hospital no qual faz o acompanhamento do câncer.
De fato, nem tudo o que envolve o paciente oncológico tem a ver com o câncer ou está a ele relacionado e poderia, portanto, ser conduzido em serviços não especializados.
Um paciente em quimioterapia, por exemplo, pode ter febre em um intervalo de até 28 dias após a aplicação do quimioterápico, e Dra. Veruska explica que ele deveria procurar o hospital geral para receber o primeiro atendimento de forma efetiva, para depois se dirigir ao hospital terciário. Por outro lado, o paciente pode estar com neutropenia, que é a contagem anormalmente baixa de um tipo de glóbulos brancos, os neutrófilos, e a abordagem de antimicrobianos para esse paciente é diferente. Esse é um aspecto que poderia ser de domínio geral dos profissionais da Saúde, e não específico daqueles que trabalham no serviço oncológico, já que esse paciente precisa receber um atendimento rápido e efetivo em até uma hora, e não ser apenas informado de que deve procurar o serviço de oncologia que, por vezes, nem em seu município fica. Seria preciso, portanto, haver uma revisão dos currículos das faculdades devido ao aumento da prevalência dos pacientes com câncer.
É preciso considerar que, quando se trata do serviço público, o acesso ao médico oncologista de referência vai ser ainda menor, e o fluxo de paciente é muito alto, daí o interesse em disseminar esse conhecimento, para que todos recebam o melhor tratamento possível em hospitais gerais.
Os números e os encaminhamentos desnecessários
• O ICESP tem de 40 mil a 45 mil pacientes registrados por ano;
• O CAIO atende um ICESP por ano, ou seja, é como se cada um dos pacientes passasse no pronto atendimento ao menos uma vez;
• O CAIO faz uma média de 140 atendimentos por dia, entre pacientes que chegam, ou o chamado “atendimento de porta”, e os que estão internados;
• Às segundas-feiras, este atendimento de porta é maior, com até 120 atendimentos/dia, além dos demais pacientes que já se encontram no setor. Desses 120 de porta da segunda-feira, pode-se dizer que pelo menos 25% a 50% não precisariam ter sido encaminhados para o CAIO;
• 76% dos pacientes que lá chegam entram para uma intervenção mais específica, como controle de sintomas, coleta de exames, observação ou internação;
• Taxa de internação no CAIO é alta, em torno de 25%, e o tempo médio de permanência, também: 12 horas.
Escola do HC oferece atualização em curso teórico-prático
Dra. Veruska coordena com colegas o Curso de Emergências Oncológicas oferecido pela Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas (EEP – HCFMUSP).
Ela explica que eles alinhavaram o curso em cima de um caso clínico, e o aluno poderá assistir a 10 horas de aulas teóricas que abordarão o paciente do momento do diagnóstico à finitude.
“Temos uma sessão inicial relacionada ao diagnóstico, abordando questões médicas e interdisciplinares – uma das aulas envolve, por exemplo, comunicação de más notícias -, sessão de complicações relacionadas ao tratamento da doença e chegamos à finitude do paciente oncológico. Esse paciente vai ser o mote para trabalharmos tudo o que não dá certo”, explica Dra. Veruska. Cada fim de módulo tem um período para discussão.
O curso é voltado para médicos generalistas, em formação, cirurgiões e para a interdisciplinaridade, tem inscrições abertas até 24 de novembro para a parte teórica, que será realizada no dia 30 de novembro, e para a parte prática, que acontecerá de 2 a 5 de dezembro, de acordo com a escolha do participante.
SERVIÇO
Curso de Emergências Oncológicas
Inscrições: até 24/11
Período do curso: parte teórica em 30/11; parte prática em um dia, de 2 a 5/12, de acordo com escolha do participante
Local do curso: Centro de Atendimento de Intercorrências Oncológicas (CAIO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), em São Paulo
Informações: https://eephcfmusp.org.br/portal/online/curso/curso-de-emergencias-oncologicas/
Informações para a imprensa
Karoline Teixeira | [email protected] | 11 962587666
Lilian Mallagoli | [email protected] | 11 981212890
São Paulo, SP 31/10/2019 –
O paciente com câncer exige cuidados e tratamentos específicos. Porém, ele pode passar por uma situação de emergência como qualquer pessoa, saudável ou não – quem está livre de um tombo, um acidente de trânsito, um corte profundo? E a questão é: a Saúde dos municípios brasileiros não está preparada para lidar com as emergências oncológicas.
“Quem faz emergência no Brasil hoje são médicos generalistas, clínicos ou cirurgiões, e não necessariamente um profissional com conhecimento centrado no paciente oncológico. Porém, ele é o profissional que fará esse primeiro atendimento. E se você não tem treinamento para realizar o atendimento destes pacientes, certamente se angustiará: não vou me envolver em um atendimento que pode ter consequências sérias, porque não sei o que fazer com isso”, afirma Dra. Veruska Menegatti Anastácio, chefe da equipe médica do Centro de Atendimento de Intercorrências Oncológicas (CAIO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).
Ela explica que muitos pacientes recorrem ao ICESP e acabam direcionados ao CAIO por motivos que poderiam ser evitados: “Além da própria insegurança do paciente, há o fato de que outros serviços, inclusive os locais, dos bairros, da periferia, do interior, temem atender uma situação de emergência no paciente com câncer, exatamente porque têm receio de agir. Muitas vezes, esse paciente sequer recebe o primeiro atendimento de pronto-socorro ao informar que é portador da doença, e isso não precisaria ser assim. Ele poderia, sim, ser atendido ali se os profissionais não ficassem dominados pela angústia, pelo receio”, explica.
A insegurança do paciente é ensinada pelo próprio sistema de Saúde; uma vez que procura um hospital geral para algo não diretamente relacionado ao câncer e é imediatamente informado que deve procurar o serviço especializado, esse paciente entende que não deve mais procurar o serviço geral. No caso de um infarto, por exemplo, ele poderia receber os primeiros socorros em qualquer endereço, mas corre o risco de falecer enquanto busca o hospital no qual faz o acompanhamento do câncer.
De fato, nem tudo o que envolve o paciente oncológico tem a ver com o câncer ou está a ele relacionado e poderia, portanto, ser conduzido em serviços não especializados.
Um paciente em quimioterapia, por exemplo, pode ter febre em um intervalo de até 28 dias após a aplicação do quimioterápico, e Dra. Veruska explica que ele deveria procurar o hospital geral para receber o primeiro atendimento de forma efetiva, para depois se dirigir ao hospital terciário. Por outro lado, o paciente pode estar com neutropenia, que é a contagem anormalmente baixa de um tipo de glóbulos brancos, os neutrófilos, e a abordagem de antimicrobianos para esse paciente é diferente. Esse é um aspecto que poderia ser de domínio geral dos profissionais da Saúde, e não específico daqueles que trabalham no serviço oncológico, já que esse paciente precisa receber um atendimento rápido e efetivo em até uma hora, e não ser apenas informado de que deve procurar o serviço de oncologia que, por vezes, nem em seu município fica. Seria preciso, portanto, haver uma revisão dos currículos das faculdades devido ao aumento da prevalência dos pacientes com câncer.
É preciso considerar que, quando se trata do serviço público, o acesso ao médico oncologista de referência vai ser ainda menor, e o fluxo de paciente é muito alto, daí o interesse em disseminar esse conhecimento, para que todos recebam o melhor tratamento possível em hospitais gerais.
Os números e os encaminhamentos desnecessários
• O ICESP tem de 40 mil a 45 mil pacientes registrados por ano;
• O CAIO atende um ICESP por ano, ou seja, é como se cada um dos pacientes passasse no pronto atendimento ao menos uma vez;
• O CAIO faz uma média de 140 atendimentos por dia, entre pacientes que chegam, ou o chamado “atendimento de porta”, e os que estão internados;
• Às segundas-feiras, este atendimento de porta é maior, com até 120 atendimentos/dia, além dos demais pacientes que já se encontram no setor. Desses 120 de porta da segunda-feira, pode-se dizer que pelo menos 25% a 50% não precisariam ter sido encaminhados para o CAIO;
• 76% dos pacientes que lá chegam entram para uma intervenção mais específica, como controle de sintomas, coleta de exames, observação ou internação;
• Taxa de internação no CAIO é alta, em torno de 25%, e o tempo médio de permanência, também: 12 horas.
Escola do HC oferece atualização em curso teórico-prático
Dra. Veruska coordena com colegas o Curso de Emergências Oncológicas oferecido pela Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas (EEP – HCFMUSP).
Ela explica que eles alinhavaram o curso em cima de um caso clínico, e o aluno poderá assistir a 10 horas de aulas teóricas que abordarão o paciente do momento do diagnóstico à finitude.
“Temos uma sessão inicial relacionada ao diagnóstico, abordando questões médicas e interdisciplinares – uma das aulas envolve, por exemplo, comunicação de más notícias -, sessão de complicações relacionadas ao tratamento da doença e chegamos à finitude do paciente oncológico. Esse paciente vai ser o mote para trabalharmos tudo o que não dá certo”, explica Dra. Veruska. Cada fim de módulo tem um período para discussão.
O curso é voltado para médicos generalistas, em formação, cirurgiões e para a interdisciplinaridade, tem inscrições abertas até 24 de novembro para a parte teórica, que será realizada no dia 30 de novembro, e para a parte prática, que acontecerá de 2 a 5 de dezembro, de acordo com a escolha do participante.
SERVIÇO
Curso de Emergências Oncológicas
Inscrições: até 24/11
Período do curso: parte teórica em 30/11; parte prática em um dia, de 2 a 5/12, de acordo com escolha do participante
Local do curso: Centro de Atendimento de Intercorrências Oncológicas (CAIO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), em São Paulo
Informações: https://eephcfmusp.org.br/portal/online/curso/curso-de-emergencias-oncologicas/
Informações para a imprensa
Karoline Teixeira | [email protected] | 11 962587666
Lilian Mallagoli | [email protected] | 11 981212890
São Paulo, SP 31/10/2019 –
O paciente com câncer exige cuidados e tratamentos específicos. Porém, ele pode passar por uma situação de emergência como qualquer pessoa, saudável ou não – quem está livre de um tombo, um acidente de trânsito, um corte profundo? E a questão é: a Saúde dos municípios brasileiros não está preparada para lidar com as emergências oncológicas.
“Quem faz emergência no Brasil hoje são médicos generalistas, clínicos ou cirurgiões, e não necessariamente um profissional com conhecimento centrado no paciente oncológico. Porém, ele é o profissional que fará esse primeiro atendimento. E se você não tem treinamento para realizar o atendimento destes pacientes, certamente se angustiará: não vou me envolver em um atendimento que pode ter consequências sérias, porque não sei o que fazer com isso”, afirma Dra. Veruska Menegatti Anastácio, chefe da equipe médica do Centro de Atendimento de Intercorrências Oncológicas (CAIO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).
Ela explica que muitos pacientes recorrem ao ICESP e acabam direcionados ao CAIO por motivos que poderiam ser evitados: “Além da própria insegurança do paciente, há o fato de que outros serviços, inclusive os locais, dos bairros, da periferia, do interior, temem atender uma situação de emergência no paciente com câncer, exatamente porque têm receio de agir. Muitas vezes, esse paciente sequer recebe o primeiro atendimento de pronto-socorro ao informar que é portador da doença, e isso não precisaria ser assim. Ele poderia, sim, ser atendido ali se os profissionais não ficassem dominados pela angústia, pelo receio”, explica.
A insegurança do paciente é ensinada pelo próprio sistema de Saúde; uma vez que procura um hospital geral para algo não diretamente relacionado ao câncer e é imediatamente informado que deve procurar o serviço especializado, esse paciente entende que não deve mais procurar o serviço geral. No caso de um infarto, por exemplo, ele poderia receber os primeiros socorros em qualquer endereço, mas corre o risco de falecer enquanto busca o hospital no qual faz o acompanhamento do câncer.
De fato, nem tudo o que envolve o paciente oncológico tem a ver com o câncer ou está a ele relacionado e poderia, portanto, ser conduzido em serviços não especializados.
Um paciente em quimioterapia, por exemplo, pode ter febre em um intervalo de até 28 dias após a aplicação do quimioterápico, e Dra. Veruska explica que ele deveria procurar o hospital geral para receber o primeiro atendimento de forma efetiva, para depois se dirigir ao hospital terciário. Por outro lado, o paciente pode estar com neutropenia, que é a contagem anormalmente baixa de um tipo de glóbulos brancos, os neutrófilos, e a abordagem de antimicrobianos para esse paciente é diferente. Esse é um aspecto que poderia ser de domínio geral dos profissionais da Saúde, e não específico daqueles que trabalham no serviço oncológico, já que esse paciente precisa receber um atendimento rápido e efetivo em até uma hora, e não ser apenas informado de que deve procurar o serviço de oncologia que, por vezes, nem em seu município fica. Seria preciso, portanto, haver uma revisão dos currículos das faculdades devido ao aumento da prevalência dos pacientes com câncer.
É preciso considerar que, quando se trata do serviço público, o acesso ao médico oncologista de referência vai ser ainda menor, e o fluxo de paciente é muito alto, daí o interesse em disseminar esse conhecimento, para que todos recebam o melhor tratamento possível em hospitais gerais.
Os números e os encaminhamentos desnecessários
• O ICESP tem de 40 mil a 45 mil pacientes registrados por ano;
• O CAIO atende um ICESP por ano, ou seja, é como se cada um dos pacientes passasse no pronto atendimento ao menos uma vez;
• O CAIO faz uma média de 140 atendimentos por dia, entre pacientes que chegam, ou o chamado “atendimento de porta”, e os que estão internados;
• Às segundas-feiras, este atendimento de porta é maior, com até 120 atendimentos/dia, além dos demais pacientes que já se encontram no setor. Desses 120 de porta da segunda-feira, pode-se dizer que pelo menos 25% a 50% não precisariam ter sido encaminhados para o CAIO;
• 76% dos pacientes que lá chegam entram para uma intervenção mais específica, como controle de sintomas, coleta de exames, observação ou internação;
• Taxa de internação no CAIO é alta, em torno de 25%, e o tempo médio de permanência, também: 12 horas.
Escola do HC oferece atualização em curso teórico-prático
Dra. Veruska coordena com colegas o Curso de Emergências Oncológicas oferecido pela Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas (EEP – HCFMUSP).
Ela explica que eles alinhavaram o curso em cima de um caso clínico, e o aluno poderá assistir a 10 horas de aulas teóricas que abordarão o paciente do momento do diagnóstico à finitude.
“Temos uma sessão inicial relacionada ao diagnóstico, abordando questões médicas e interdisciplinares – uma das aulas envolve, por exemplo, comunicação de más notícias -, sessão de complicações relacionadas ao tratamento da doença e chegamos à finitude do paciente oncológico. Esse paciente vai ser o mote para trabalharmos tudo o que não dá certo”, explica Dra. Veruska. Cada fim de módulo tem um período para discussão.
O curso é voltado para médicos generalistas, em formação, cirurgiões e para a interdisciplinaridade, tem inscrições abertas até 24 de novembro para a parte teórica, que será realizada no dia 30 de novembro, e para a parte prática, que acontecerá de 2 a 5 de dezembro, de acordo com a escolha do participante.
SERVIÇO
Curso de Emergências Oncológicas
Inscrições: até 24/11
Período do curso: parte teórica em 30/11; parte prática em um dia, de 2 a 5/12, de acordo com escolha do participante
Local do curso: Centro de Atendimento de Intercorrências Oncológicas (CAIO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), em São Paulo
Informações: https://eephcfmusp.org.br/portal/online/curso/curso-de-emergencias-oncologicas/
Informações para a imprensa
Karoline Teixeira | [email protected] | 11 962587666
Lilian Mallagoli | [email protected] | 11 981212890
São Paulo, SP 31/10/2019 –
O paciente com câncer exige cuidados e tratamentos específicos. Porém, ele pode passar por uma situação de emergência como qualquer pessoa, saudável ou não – quem está livre de um tombo, um acidente de trânsito, um corte profundo? E a questão é: a Saúde dos municípios brasileiros não está preparada para lidar com as emergências oncológicas.
“Quem faz emergência no Brasil hoje são médicos generalistas, clínicos ou cirurgiões, e não necessariamente um profissional com conhecimento centrado no paciente oncológico. Porém, ele é o profissional que fará esse primeiro atendimento. E se você não tem treinamento para realizar o atendimento destes pacientes, certamente se angustiará: não vou me envolver em um atendimento que pode ter consequências sérias, porque não sei o que fazer com isso”, afirma Dra. Veruska Menegatti Anastácio, chefe da equipe médica do Centro de Atendimento de Intercorrências Oncológicas (CAIO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP).
Ela explica que muitos pacientes recorrem ao ICESP e acabam direcionados ao CAIO por motivos que poderiam ser evitados: “Além da própria insegurança do paciente, há o fato de que outros serviços, inclusive os locais, dos bairros, da periferia, do interior, temem atender uma situação de emergência no paciente com câncer, exatamente porque têm receio de agir. Muitas vezes, esse paciente sequer recebe o primeiro atendimento de pronto-socorro ao informar que é portador da doença, e isso não precisaria ser assim. Ele poderia, sim, ser atendido ali se os profissionais não ficassem dominados pela angústia, pelo receio”, explica.
A insegurança do paciente é ensinada pelo próprio sistema de Saúde; uma vez que procura um hospital geral para algo não diretamente relacionado ao câncer e é imediatamente informado que deve procurar o serviço especializado, esse paciente entende que não deve mais procurar o serviço geral. No caso de um infarto, por exemplo, ele poderia receber os primeiros socorros em qualquer endereço, mas corre o risco de falecer enquanto busca o hospital no qual faz o acompanhamento do câncer.
De fato, nem tudo o que envolve o paciente oncológico tem a ver com o câncer ou está a ele relacionado e poderia, portanto, ser conduzido em serviços não especializados.
Um paciente em quimioterapia, por exemplo, pode ter febre em um intervalo de até 28 dias após a aplicação do quimioterápico, e Dra. Veruska explica que ele deveria procurar o hospital geral para receber o primeiro atendimento de forma efetiva, para depois se dirigir ao hospital terciário. Por outro lado, o paciente pode estar com neutropenia, que é a contagem anormalmente baixa de um tipo de glóbulos brancos, os neutrófilos, e a abordagem de antimicrobianos para esse paciente é diferente. Esse é um aspecto que poderia ser de domínio geral dos profissionais da Saúde, e não específico daqueles que trabalham no serviço oncológico, já que esse paciente precisa receber um atendimento rápido e efetivo em até uma hora, e não ser apenas informado de que deve procurar o serviço de oncologia que, por vezes, nem em seu município fica. Seria preciso, portanto, haver uma revisão dos currículos das faculdades devido ao aumento da prevalência dos pacientes com câncer.
É preciso considerar que, quando se trata do serviço público, o acesso ao médico oncologista de referência vai ser ainda menor, e o fluxo de paciente é muito alto, daí o interesse em disseminar esse conhecimento, para que todos recebam o melhor tratamento possível em hospitais gerais.
Os números e os encaminhamentos desnecessários
• O ICESP tem de 40 mil a 45 mil pacientes registrados por ano;
• O CAIO atende um ICESP por ano, ou seja, é como se cada um dos pacientes passasse no pronto atendimento ao menos uma vez;
• O CAIO faz uma média de 140 atendimentos por dia, entre pacientes que chegam, ou o chamado “atendimento de porta”, e os que estão internados;
• Às segundas-feiras, este atendimento de porta é maior, com até 120 atendimentos/dia, além dos demais pacientes que já se encontram no setor. Desses 120 de porta da segunda-feira, pode-se dizer que pelo menos 25% a 50% não precisariam ter sido encaminhados para o CAIO;
• 76% dos pacientes que lá chegam entram para uma intervenção mais específica, como controle de sintomas, coleta de exames, observação ou internação;
• Taxa de internação no CAIO é alta, em torno de 25%, e o tempo médio de permanência, também: 12 horas.
Escola do HC oferece atualização em curso teórico-prático
Dra. Veruska coordena com colegas o Curso de Emergências Oncológicas oferecido pela Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas (EEP – HCFMUSP).
Ela explica que eles alinhavaram o curso em cima de um caso clínico, e o aluno poderá assistir a 10 horas de aulas teóricas que abordarão o paciente do momento do diagnóstico à finitude.
“Temos uma sessão inicial relacionada ao diagnóstico, abordando questões médicas e interdisciplinares – uma das aulas envolve, por exemplo, comunicação de más notícias -, sessão de complicações relacionadas ao tratamento da doença e chegamos à finitude do paciente oncológico. Esse paciente vai ser o mote para trabalharmos tudo o que não dá certo”, explica Dra. Veruska. Cada fim de módulo tem um período para discussão.
O curso é voltado para médicos generalistas, em formação, cirurgiões e para a interdisciplinaridade, tem inscrições abertas até 24 de novembro para a parte teórica, que será realizada no dia 30 de novembro, e para a parte prática, que acontecerá de 2 a 5 de dezembro, de acordo com a escolha do participante.
SERVIÇO
Curso de Emergências Oncológicas
Inscrições: até 24/11
Período do curso: parte teórica em 30/11; parte prática em um dia, de 2 a 5/12, de acordo com escolha do participante
Local do curso: Centro de Atendimento de Intercorrências Oncológicas (CAIO) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), em São Paulo
Informações: https://eephcfmusp.org.br/portal/online/curso/curso-de-emergencias-oncologicas/
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