Setor de embalagens de madeira enfrenta disparada de preços dos insumos nesta retomada

São Paulo, SP 15/10/2020 – “A situação é pontualmente difícil e esses reajustes terão que se refletir nos preços finais” Roger Becker, diretor-executivo da ANAPEM.

O setor de embalagens de madeira vem sofrendo com uma alta generalizada dos principais insumos usados na fabricação do produto final, que em alguns casos se aproxima de 40% no acumulado desde agosto do ano passado. As toras de madeira, uma das matérias-primas mais representativas, ficaram 14% mais caras só em setembro, depois de terem registrado alta de 23% em 12 meses (entre agosto e o mesmo mês de 2019), resultando em um aumento total de 37%. Os componentes metálicos (pregos, grampos e outros fixadores) tiveram alta de 14% em 12 meses e sofreram novo reajuste pesado em setembro (de 24%), totalizando 38%. Esses números foram apurados através de uma pesquisa realizada pela ANAPEM (Associação Nacional dos Produtores de Paletes e Embalagens de Madeira) entre seus associados.

“A situação é pontualmente difícil e esses reajustes terão que se refletir nos preços finais,” afirma Roger Becker, diretor-executivo da ANAPEM.
A alta dos preços dos insumos pode ser explicada por três fatores principais: a desorganização das cadeias produtivas da indústria em razão da pandemia, a sobrecarga sofrida pela logística de abastecimento com a retomada da atividade econômica e a mudança dos preços relativos por causa da alta do dólar. “Diversos segmentos industriais sofreram uma queda brusca nas vendas com o fechamento do comércio durante os meses de março e abril, ocasionando uma pausa na produção,” explica José Ricardo Roriz Coelho, vice-presidente da FIESP.

Sem a demanda do produtor final, os fornecedores de insumo também reduziram drasticamente sua produção. Em paralelo, surgiu uma dificuldade na distribuição, ocasionada pela necessidade de adaptação rápida às vendas online, algo que a economia brasileira não estava preparada para enfrentar.

Conforme a demanda foi sendo retomada, impulsionada em parte pela ajuda emergencial dos R$ 600 do governo federal, a indústria se vê em dificuldades de adquirir matéria-prima na quantidade e aos preços anteriores. Além de os fornecedores estarem com estoques baixos, começaram a repassar aos preços o impacto da desvalorização do câmbio.

AÇO E MADEIRA
A alta de cada insumo tem sua justificativa. O aumento de 38% no valor dos pregos é um reflexo dos recentes aumentos praticados pelas siderúrgicas nos preços do aço, que foram de 10% em média entre agosto e setembro – e outro reajuste de igual tamanho é esperado para outubro.
A explicação para a valorização do aço é semelhante às demais matérias-primas, incluindo o desarranjo na produção nos meses mais duros da pandemia e o enfraquecimento do real. A produção brasileira sofreu queda de 11,6% nos oito primeiros meses do ano em relação ao mesmo período de 2019, somando 19,8 milhões de toneladas. As vendas internas também caíram na mesma comparação, mas em proporção bem menor, um recuo de 6,3% entre janeiro e agosto, totalizando 11,7 milhões de toneladas. Os números são do Inda (Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço).

Como fator agravante adicional, vários altos-fornos das siderúrgicas foram desligados quando a produção foi reduzida e, mesmo depois de reativados, levam de 20 a 30 dias para voltar a funcionar. A isso se junta o pico pontual de demanda causado pela retomada, pressionando os estoques. Ainda de acordo com a Inda, as compras dos distribuidores de aço subiram 10,3% em agosto em relação ao mesmo mês de 2019, para 309 mil toneladas. As vendas, porém, dispararam 33,5% na mesma comparação, somando 374 mil toneladas.

No caso da madeira, além do descompasso entre produção reduzida e demanda pressionada, viu-se uma certa “corrida” da indústria às compras. Os preços da madeira mais fina (toras de 8 a 18 centímetros de diâmetro) foram pressionados principalmente pela desvalorização do câmbio, explica Mauro Murara, diretor-executivo da ACR (Associação Catarinense de Empresas Florestais). O real mais fraco estimulou a exportação dos derivados fabricados com essa variedade, como MDF, aglomerados e outros.

O levantamento da ANAPEM identificou aumento de 25% nos compensados nos últimos 13 meses e o OSB (uma chapa composta de fibras de madeira orientada utilizada no segmento de embalagens e na construção civil) ficou 28% mais cara desde agosto do ano passado. A madeira serrada teve elevação de 20% desde agosto de 2019, enquanto as toras acumulam valorização de 37% no mesmo período.

A madeira mais fina também serve de matéria-prima para a indústria de celulose e o aumento na demanda por este produto que historicamente costuma se verificar no segundo semestre colaborou para pressionar os preços. Os valores internacionais de referência subiram em setembro na Bolsa de Xangai, em razão de uma mudança regulatória que permitiu que a celulose de eucalipto estocada nos armazéns das fábricas passe a contar como mercadoria para contratos futuros.

A expectativa é de que a questão do abastecimento dos insumos se resolva dentro de alguns meses no mercado brasileiro, mas os preços dificilmente irão recuar aos patamares anteriores, porque já vinham pressionados há algum tempo.

EQUILÍBRIO E PULVERIZAÇÃO DAS COMPRAS
Os fabricantes de embalagens de madeira vêm tentando se equilibrar entre a alta dos custos de produção e um mercado cada vez mais resistente a entender a situação. Empresários têm procurado explicar com transparência aos clientes que será necessário repassar os aumentos de custos ao preço final. Algumas empresas também têm buscado desenvolver novos fornecedores de matéria-prima. Além de abrir alternativas, a pulverização das compras (de insumos) amplia a margem de negociação para quem fabrica embalagens de madeira.

A ANAPEM tem se esforçado para manter seus associados informados sobre a conjuntura dos aumentos e recomenda aos fabricantes que mantenham o diálogo aberto, tanto com fornecedores quanto com clientes. “É preciso encontrar o caminho do meio”, afirma Becker.

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