Carmignac: como lidar com os mercados em 2020?

São Paulo 24/1/2020 –

Levar em consideração as perspectivas dos três motores de mercado – economia real, sentimento e liquidez – resulta para 2020 em um perfil de mercados bem orientado, mas possivelmente instável. A realidade das estatísticas econômicas do início desse ano reforça a estagnação dos protagonistas do crescimento mundial.

Na China, os indicadores de atividade interna de dezembro (índice PMI) ainda apontam uma desaceleração moderada nos serviços e mais fortes na construção. Os projetos de investimento continuam fracos e os sinais de uma aceleração dos ganhos inverteram-se. Sem surpresas, as medidas de acompanhamento implementadas por Pequim são inferiores às observadas em 2016 para relançar a máquina. Agora, tanto o governo como o Banco Popular da China decidiram abandonar a corrida precipitada para um estímulo orçamental massivo ou uma política monetária ao estilo ocidental. A contenção do crescimento da dívida privada e a garantia de estabilidade dos fluxos de capitais são desafios estratégicos aos quais Xi Jinping decidiu priorizar. O acordo comercial com os Estados Unidos contribuirá para esta estabilização e deverá resultar numa solidez da moeda chinesa. Por outro lado, é na China que se encontram uma parte crescente das oportunidades de investimento em ações.

Nos EUA, a “financeirização” da economia garante que a forte subida do índice de ações S&P500 no final do ano passado, orquestrada em medida da FED, reforça o sentimento dos americanos e apoia o pilar essencial do crescimento, o consumo. Junto com um movimento de reposição clássico, que poderá ser suficiente para iniciar o ano com uma dinâmica econômica mais favorável. Semelhante à China, os últimos indicadores de atividade publicados no início do ano destacam a fragilidade da atividade industrial norte-americana, mantendo o risco de propagação à atividade de serviços que, até agora, resistiu muito bem. Junto com um efeito de base favorável, a eliminação do risco de uma escalada da guerra comercial deverá permitir uma estabilização, ou mesmo uma ligeira melhoria, do ciclo industrial mundial.

Na Europa, a atividade econômica beneficiará, em curto prazo, uma melhoria global, mas peca igualmente pela sua modéstia (o índice PMI industrial da Markit para a zona do euro, no mês de dezembro, mantém-se em 46,3 pontos na zona de recessão). Esta perspectiva estimula a manutenção das construções de carteiras de ações com atenção extra a títulos de crescimento de grande visibilidade.

Em um momento em que o apoio monetário e o afastamento dos cenários prejudiciais resultaram no regresso do anseio dos investidores por ações, o Governo Trump abre uma nova frente de incertezas no Oriente Médio com um resultado político que não é isento de riscos. Simultaneamente, começarão intensas negociações entre o Reino Unido e a União Europeia, assim como a segunda fase das negociações sino-americanas. Além disso, a definição das eleições primárias norte-americanas permitirá antecipar quem enfrentará Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro, um desafio importante para os mercados.

Com isso, a melhoria do sentimento dos investidores, que impactou positivamente os mercados no ano passado, é passível de ser abalada várias vezes em 2020. Espera-se que uma gestão apta das carteiras, com variação de exposição aos riscos de mercado, desempenhe um papel mais importante na geração de desempenho.

Além da retomada do programa de compra de ativos pelo Banco Central Europeu, deve ser levada em conta a medida do ativismo recuperado pela FED em 2019: desde setembro passado, a FED injetou mais de U$ 400 bi no sistema financeiro dos EUA através da compra de bilhetes do Tesouro, o que corresponde a um aumento do seu balanço semelhante ao registrado no auge da crise financeira há 7 anos. Trata-se de uma flexibilização monetária quantitativa, tendo desfeito, em menos de quatro meses metade da orientação restritiva efetuada desde o início de 2018.

As circunstâncias técnicas que rodeiam a forte intervenção da FED no financiamento interbancário americano são complexas, mas estão relacionadas com uma insuficiência das reservas no balanço dos bancos americanos face às restrições regulamentares, num momento em que o Tesouro dos EUA deve financiar um déficit superior a U$ 1 bi por meio da emissão de rendas fixas e numa altura em que a resiliência do dólar não encoraja os investidores internacionais a adquirir esta dívida. A continuação, ou não, desta injeção colossal de liquidez constitui uma das principais chave para o futuro dos mercados em 2020.

As conclusões da revisão estratégica da política monetária acionada pela FED em 2019, que deverão ser anunciadas no primeiro semestre, serão muito importantes. A FED não está disposta a abandonar a sua pretensão de independência ao aceitar financiar diretamente o aumento da dívida do governo dos EUA, provocado pela política orçamental de Trump. Mas os últimos dois anos confirmaram a impossibilidade técnica de a FED reduzir o apoio aos mercados sem provocar uma turbulência. Além disso, as previsões de inflação permanecem contidas, conferindo à FED uma grande capacidade de ação. O equilíbrio agora precário entre o apoio ativo e o desejo de escapar à acusação de risco moral deverá constituir uma questão mais premente, sendo que o dólar norte-americano poderá sofrer as consequências. A cobertura do risco cambial dos ativos em dólares norte-americanos tem sido uma prioridade há meses.

Assim, a interação dos principais motores dos mercados anuncia para 2020 uma alternativa menos binária do que nos últimos dois anos. 2018 começou com um posicionamento muito otimista dos investidores, que desconheciam os perigos de uma orientação monetária restritiva aplicada a economias em desaceleração. Por sua vez, 2019 começou com um pessimismo extremo, sugerindo uma assimetria favorável dos riscos de mercados, materializada pela volta de 180 graus na política monetária norte-americana e depois pela atenuação dos riscos políticos.

Atualmente não existe essa polarização, mas os mercados ainda estão inebriados pela dinâmica do final de ano e expostos pela vulnerabilidade crescente aos erros de políticas, incluindo as monetárias. Ao contrário de 2019, uma gestão que segue tendências de controle ativo será menos necessária em 2020.

Website: https://www.carmignac.com/en_US

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Carmignac: como lidar com os mercados em 2020?

São Paulo 24/1/2020 –

Levar em consideração as perspectivas dos três motores de mercado – economia real, sentimento e liquidez – resulta para 2020 em um perfil de mercados bem orientado, mas possivelmente instável. A realidade das estatísticas econômicas do início desse ano reforça a estagnação dos protagonistas do crescimento mundial.

Na China, os indicadores de atividade interna de dezembro (índice PMI) ainda apontam uma desaceleração moderada nos serviços e mais fortes na construção. Os projetos de investimento continuam fracos e os sinais de uma aceleração dos ganhos inverteram-se. Sem surpresas, as medidas de acompanhamento implementadas por Pequim são inferiores às observadas em 2016 para relançar a máquina. Agora, tanto o governo como o Banco Popular da China decidiram abandonar a corrida precipitada para um estímulo orçamental massivo ou uma política monetária ao estilo ocidental. A contenção do crescimento da dívida privada e a garantia de estabilidade dos fluxos de capitais são desafios estratégicos aos quais Xi Jinping decidiu priorizar. O acordo comercial com os Estados Unidos contribuirá para esta estabilização e deverá resultar numa solidez da moeda chinesa. Por outro lado, é na China que se encontram uma parte crescente das oportunidades de investimento em ações.

Nos EUA, a “financeirização” da economia garante que a forte subida do índice de ações S&P500 no final do ano passado, orquestrada em medida da FED, reforça o sentimento dos americanos e apoia o pilar essencial do crescimento, o consumo. Junto com um movimento de reposição clássico, que poderá ser suficiente para iniciar o ano com uma dinâmica econômica mais favorável. Semelhante à China, os últimos indicadores de atividade publicados no início do ano destacam a fragilidade da atividade industrial norte-americana, mantendo o risco de propagação à atividade de serviços que, até agora, resistiu muito bem. Junto com um efeito de base favorável, a eliminação do risco de uma escalada da guerra comercial deverá permitir uma estabilização, ou mesmo uma ligeira melhoria, do ciclo industrial mundial.

Na Europa, a atividade econômica beneficiará, em curto prazo, uma melhoria global, mas peca igualmente pela sua modéstia (o índice PMI industrial da Markit para a zona do euro, no mês de dezembro, mantém-se em 46,3 pontos na zona de recessão). Esta perspectiva estimula a manutenção das construções de carteiras de ações com atenção extra a títulos de crescimento de grande visibilidade.

Em um momento em que o apoio monetário e o afastamento dos cenários prejudiciais resultaram no regresso do anseio dos investidores por ações, o Governo Trump abre uma nova frente de incertezas no Oriente Médio com um resultado político que não é isento de riscos. Simultaneamente, começarão intensas negociações entre o Reino Unido e a União Europeia, assim como a segunda fase das negociações sino-americanas. Além disso, a definição das eleições primárias norte-americanas permitirá antecipar quem enfrentará Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro, um desafio importante para os mercados.

Com isso, a melhoria do sentimento dos investidores, que impactou positivamente os mercados no ano passado, é passível de ser abalada várias vezes em 2020. Espera-se que uma gestão apta das carteiras, com variação de exposição aos riscos de mercado, desempenhe um papel mais importante na geração de desempenho.

Além da retomada do programa de compra de ativos pelo Banco Central Europeu, deve ser levada em conta a medida do ativismo recuperado pela FED em 2019: desde setembro passado, a FED injetou mais de U$ 400 bi no sistema financeiro dos EUA através da compra de bilhetes do Tesouro, o que corresponde a um aumento do seu balanço semelhante ao registrado no auge da crise financeira há 7 anos. Trata-se de uma flexibilização monetária quantitativa, tendo desfeito, em menos de quatro meses metade da orientação restritiva efetuada desde o início de 2018.

As circunstâncias técnicas que rodeiam a forte intervenção da FED no financiamento interbancário americano são complexas, mas estão relacionadas com uma insuficiência das reservas no balanço dos bancos americanos face às restrições regulamentares, num momento em que o Tesouro dos EUA deve financiar um déficit superior a U$ 1 bi por meio da emissão de rendas fixas e numa altura em que a resiliência do dólar não encoraja os investidores internacionais a adquirir esta dívida. A continuação, ou não, desta injeção colossal de liquidez constitui uma das principais chave para o futuro dos mercados em 2020.

As conclusões da revisão estratégica da política monetária acionada pela FED em 2019, que deverão ser anunciadas no primeiro semestre, serão muito importantes. A FED não está disposta a abandonar a sua pretensão de independência ao aceitar financiar diretamente o aumento da dívida do governo dos EUA, provocado pela política orçamental de Trump. Mas os últimos dois anos confirmaram a impossibilidade técnica de a FED reduzir o apoio aos mercados sem provocar uma turbulência. Além disso, as previsões de inflação permanecem contidas, conferindo à FED uma grande capacidade de ação. O equilíbrio agora precário entre o apoio ativo e o desejo de escapar à acusação de risco moral deverá constituir uma questão mais premente, sendo que o dólar norte-americano poderá sofrer as consequências. A cobertura do risco cambial dos ativos em dólares norte-americanos tem sido uma prioridade há meses.

Assim, a interação dos principais motores dos mercados anuncia para 2020 uma alternativa menos binária do que nos últimos dois anos. 2018 começou com um posicionamento muito otimista dos investidores, que desconheciam os perigos de uma orientação monetária restritiva aplicada a economias em desaceleração. Por sua vez, 2019 começou com um pessimismo extremo, sugerindo uma assimetria favorável dos riscos de mercados, materializada pela volta de 180 graus na política monetária norte-americana e depois pela atenuação dos riscos políticos.

Atualmente não existe essa polarização, mas os mercados ainda estão inebriados pela dinâmica do final de ano e expostos pela vulnerabilidade crescente aos erros de políticas, incluindo as monetárias. Ao contrário de 2019, uma gestão que segue tendências de controle ativo será menos necessária em 2020.

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