Ao invés de tomar o lugar dos trabalhadores, Inteligência Artificial pode salvar suas vidas

São Paulo – SP 27/12/2019 –

Por Richard Brown*

Mesmo caminhando para ser superado, o temor de que as máquinas dotadas de inteligência artificial roubem as vagas de trabalho dos seres humanos ainda existe. Diante desta constatação, é sempre importante chamar a atenção para o cuidado que se deve ter com os extremos. Afinal, um olhar mais equilibrado vai revelar que entre a substituição de um pelo outro existe uma grande distância e que ao invés de confronto pode haver conexão entre a tecnologia e as pessoas.

Neste sentido, chama a atenção a forma como a Inteligência Artificial está sendo usada para reduzir o número de acidentes de trabalho. Avanços tecnológicos significativos nas últimas décadas têm possibilitado, por exemplo, a instalação de sistemas de computador em veículos de forma mais viável do que nunca. Eles podem ser alojados em gabinetes robustos, criando uma solução que pode se adaptar perfeitamente a empilhadeiras, por exemplo, e a outros veículos de armazém.

Adicionando câmeras de nível industrial a estes sistemas é possível criar uma solução de segurança que integre software de visão computacional e algoritmos sofisticados de IA que possam realmente ajudar os operadores a evitar colisões e acidentes.

Em todo o mundo os armazéns continuam sendo alguns dos locais mais perigosos para se trabalhar, principalmente quando se trata de empilhadeiras e plataformas elevatórias. Só para exemplificar, em 2015, o setor foi responsável por 16,5% de todas as mortes no local de trabalho em toda a União Europeia. Nos Estados Unidos, a Administração de Segurança e Saúde Ocupacional (OSHA) estima que apenas as empilhadeiras causam 101 mortes e quase 95.000 lesões no local de trabalho a cada ano.

Não há números sobre o assunto no Brasil, mas há indícios suficientes para assegurar que a situação não é menos grave. Afinal, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Brasil ocupa o 4° lugar no ranking mundial em número de acidentes de trabalho, ficando atrás somente da China, Índia e Indonésia. Dados da Previdência Social apontam que, entre 2014 e 2018, o país registrou 1,8 milhão de afastamentos em função de acidentes de trabalho, com a ocorrência de 6,2 mil mortes.

Apesar dos regulamentos rigorosos sobre manutenção, treinamento de motoristas e segregação de pedestres na maior parte do mundo, os acidentes com empilhadeiras representam uma porcentagem significativa desses incidentes. Os operadores correm o risco de esmagamento em acidentes de capotagem, com outros funcionários da oficina correndo o risco de serem atingidos pelos próprios veículos ou pela queda de cargas.

Em termos leigos, o uso de inteligência artificial tem o potencial de adicionar aos motoristas um par de olhos extra. Por exemplo, com os sensores e câmeras apropriados, um Sistema Avançado de Assistência ao Motorista (ADAS) pode ajudar a alertar os motoristas sobre colegas ou obstruções em seus pontos cegos. O mesmo sistema também pode fornecer um sistema Surround View que oferece uma visão panorâmica do veículo em 360 graus, o que melhora enormemente a percepção situacional. Os motoristas não precisam mais olhar por cima do ombro; de relance, eles têm uma visão abrangente de seus arredores.

Infelizmente, motoristas e operadores em ambientes de armazém nem sempre seguem os regulamentos quando se trata de usar cintos de segurança, operar telefones e até fumar no trabalho. Os algoritmos de inteligência artificial podem usar uma câmera dedicada para detectar instantaneamente o comportamento perigoso do motorista, emitindo um alerta ou desativando o veículo quando necessário.

Também é possível incluir a identificação do motorista no sistema, adicionando algoritmos de reconhecimento facial para que os veículos no chão de fábrica possam ser operados apenas por pessoal treinado e qualificado.
Nenhuma empresa quer ver seus funcionários magoados, mas os custos diretos e indiretos de um acidente tornam ainda mais importante a busca pelos mais altos padrões de segurança. No armazém, a visão computacional e os sistemas de inteligência artificial podem ajudar a aplicar as regras existentes e oferecer proteção adicional contra fatores humanos, como cansaço, doença ou distração, que geralmente são a principal causa de um desastre.

A longo prazo, mesmo quando mais armazéns se tornam totalmente automatizados, a prevenção de ferimentos e mortes continua sendo uma preocupação. Investir em um sistema de segurança avançado que integra IA ajudará a proteger os negócios das graves consequências de acidentes, ferimentos e até mortes. É um investimento em segurança dos funcionários que simplesmente tem que valer a pena. Ao invés de tomar o lugar dos trabalhadores a tecnologia pode, e deve, salvar suas vidas.

* Richard Brown é VP de marketing da VIA Technologies

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