Arie Halpern: Yuval Noah Harari faz conferências no Brasil e ajuda pensar futuro da tecnologia

19/11/2019 – Ali ele estabelece com muita competência as linhas mestras que estão sendo tecidas pela tecnologia em direção ao futuro.

Na última semana, as pessoas interessadas em ciência, tecnologia e filosofia acompanharam com muito interesse uma série de conferências que o escritor israelense Yuval Noah Harari fez no Brasil. Harari é o autor de Sapiens: uma breve história da humanidade (L&PM, 2011), Homo Deus: uma breve história do amanhã (Companhia das Letras, 2015), 21 lições para o século 21 (Companhia das Letras, 2018), além de outros títulos que estão aguardando tradução para o português. Já na sua estreia, com Sapiens, ele vendeu mais de 2 milhões de exemplares, e esse sucesso vem se repetindo em todo o mundo com seus outros títulos. Em sua visita, ele deu uma longa entrevista ao tradicional programa Roda Vida, da TV Cultura, e falou aos parlamentares no Congresso Nacional em Brasília.

Harari tem sido um dos autores mais celebrados do contemporâneo, tanto por pessoas que têm formação mais especializada quanto por aquelas que não vão muito além das notícias da imprensa em seu conhecimento a respeito de desenvolvimento científico. Isso porque ele se posiciona a partir de um ponto de vista muito interessante para lidar com as perspectivas de futuro: parte de um conhecimento técnico muito avançado, mas permanece mesmo assim aberto para as consequências do desenvolvimento tecnológico na vida das pessoas, temperando o seu pensamento com preocupações sociais e abordagens filosóficas.

Depois de estrear com a ambição de contar “uma breve história da humanidade”, mostrando a singularidade da aventura humana no planeta a partir de uma visão multidisciplinar, Harari provocou um verdadeiro realinhamento dos debates principalmente com seu segundo livro, Homo Deus. Ali ele estabelece com muita competência as linhas mestras que estão sendo tecidas pela tecnologia em direção ao futuro, levando em conta principalmente a engenharia genética e a Inteligência Artificial (A.I.). Harari entende que ultrapassamos uma fronteira nesse século 21, e por isso escolheu esse polêmico nome para sua obra. Como antes este era apenas um atributo de Deus, começamos a modificar o ordenamento genético e mesmo a criar inteligência própria, para fora daquela naturalmente desenvolvida.

Diante desses desafios, o autor entende que devemos reassumir as rédeas do desenvolvimento tecnológico, sem considerá-lo como uma espécie de força autônoma, sobre a qual não temos mais ingerência e que seria responsável pelo nosso destino. A força da filosofia, da arte, da poesia, e mesmo da religião devem assim temperar nossas escolhas, tanto individuais quanto coletivas, em direção a um futuro no qual a tecnologia nos sirva, e não o contrário. A leitura de Harari hoje é uma das mais satisfatórias experiências que se possa ter, um brilhante compêndio da situação na qual se encontra aquilo que nos torna verdadeiramente humanos, a consciência, a liberdade, a fantasia – as quais devemos prezar e louvar sempre.

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