Crise deve alavancar reestruturação de dívidas e fusões e aquisições

São Paulo 24/3/2020 – “Com o endividamento, as empresas ficam sufocadas e aproveitam as oportunidades de reestruturação de dívidas”

A pandemia de coronavírus e a consequente paralisação da economia podem criar cenários positivos para algumas áreas. Escritórios de advocacia focados em fusões e aquisições e no setor bancário devem atender à demanda das duas pontas dos negócios: companhias endividadas e empresas com caixa para adquirir ativos com preços bem mais acessíveis.

Duas resoluções do CMN facilitaram recentemente um pouco mais os negócios e evitaram uma leva de quebradeiras. A primeira medida do CMN facilita a renegociação de operações de créditos de empresas e de famílias que possuem boa capacidade financeira e mantêm operações regulares e adimplentes ativas, permitindo ajustes de seus fluxos de caixa. A segunda medida expande a capacidade de utilização de capital dos bancos para que eles tenham melhores condições para realizar as eventuais renegociações e de manter o fluxo de concessão de crédito.

As resoluções foram muito bem-vindas e escritórios de advocacia já preveem um aumento na procura por assessoria jurídica em poucos meses, principalmente na parte de reestruturação de dívidas. “Com o endividamento, as empresas ficam sufocadas e aproveitam as oportunidades de reestruturação de dívidas. Vão pedir aos credores mais prazos, renegociação de taxas de juros, etc. As duas resoluções do CMN facilitam essa reestruturação. Bancos e devedores se beneficiam”, diz Antonio Giglio Neto, especialista em direito bancário e financeiro do Giglio Neto Advogados, nova banca estruturada por um dos sócios que se desligou do Demarest Advogados . “Nossos honorários mais justos, estrutura mais enxuta e atendimento customizado são diferenciais atraentes para enfrentar os efeitos econômicos da epidemia”, diz.

Antes da pandemia, havia expectativa de um novo recorde em fusões e aquisições em 2020. De acordo com estudo da PwC, foram realizadas 912 transações de fusões e aquisições em 2019. Com esse volume de negócios, o país chegou ao recorde histórico desde que a compilação começou a ser feita, a partir de 1991. E 2020 já começou agitado no mercado brasileiro, com o volume de  89 operações em janeiro, o maior número já registrado para o mês. Esse ano deve registrar grandes transações, porém, com perspectivas de mercado diferentes.

Pesquisa mundial da Baker Tilly International e Mergermarket reforça o estudo da PwC e ainda indica que as negociações de fusões e aquisições no middle Market (negócio avaliado entre US$ 15 milhões e US$ 500 milhões) têm um grande potencial esse ano. 67% dos entrevistados concordam que este segmento terá a maior atividade em 2020. Segundo o líder global de Finanças Corporativas da Baker Tilly International, Michael Sonego, “Negócios com empresas de middle market, geralmente produzindo melhores taxas de risco-retorno, podem parecer mais atraentes. Mais intuitivamente, o segmento de middle market constitui o alvo mais atraente, dado seu modelo de negócios e agilidade comprovados”. 

Giglio Neto lembra ainda da ótima oportunidade de aquisições de empresas em recuperação judicial, uma vez que para esse caso há proteção legal para o  investidor que comprar a empresa. “Em recuperação judicial, fazendo-se a venda do ativo na forma prevista na lei (“unidade produtiva isolada”), não há sucessão do comprador nas obrigações do devedor. O comprador compra o ativo como se fosse zero quilômetro. É uma grande chance de adquirir um  ativo provavelmente barato com essa proteção”.

O middle market abre também – para escritórios menores e com preços mais competitivos –  ótimas possibilidades de trabalho que vão além das operações de fusões e aquisições. Giglio Neto afirma que nas áreas de bancário e financeiro, em grande parte das operações, os players envolvidos (credores, de um lado, e tomadoras, de outro) têm optado por trabalhar com bancas de estrutura mais enxuta e com custo menor. “Quanto a contratos comerciais e imobiliário, assim como em societário mais puro (que não necessariamente um M&A), a oportunidade que enxergo está nas empresas de middle que não querem investir muito dinheiro em honorários altos dos grandes escritórios, já que esses são trabalhos mais rotineiros, de dia a dia. No geral, a grande aposta é o crescimento dessas empresas, que hoje são startups ou de middle, e amanhã serão de grande porte, com a retomada econômica. São minas de pequenos negócios que ajudamos com toda a consultoria jurídica sem a preocupação a curto prazo. Queremos crescer juntos e usufruir a longo prazo”.

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