Fusões e aquisições na educação devem ir além da due diligence tradicional

São Paulo 29/11/2019 –

Passados 20 anos de abertura do mercado educacional, as necessidades dos alunos não foram verdadeiramente consideradas e atendidas. O foco dos grandes grupos educacionais ficou no mercado de investidores com resultados financeiros cada vez mais agressivos, com promessas de EBTIDA sempre crescente, sem qualquer política de inovação, de renovação dos recursos que mantinham os negócios cada vez mais atrativos financeiramente.

As aquisições foram estabelecidas em negócios bem estruturados, mas, mesmo com processos detalhados de due diligence, deixaram de lado nas suas análises, algumas características importantes do segmento educacional, como a histerese, ou seja, a proposta de fazer mais do mesmo jeito. Assim, mesmo gerando resultados, as últimas aquisições dos grandes grupos se mostraram com eficiência aquém do que se previa nas análises, considerando os valores das negociações.

O Grupo SER Educacional comprou a UNG (Universidade de Guarulhos), uma grande marca da região metropolitana de São Paulo, em um local de grande concentração humana, mas, ao implantar seus padrões curriculares e estrutura de gestão, chegou a perder cerca de 25% da base de alunos existentes na UNG e não conseguiu recuperar o número registrado quando do período de aquisição.

A Kroton, por sua vez, fez a aquisição da Somos Educação, o maior player de educação básica, que atua em editoras (Ática e Scipione), sistemas de ensino (mais de 10 sistemas de Educação Básica nas fases Médio e Fundamental I e II) e acessórios educacionais para o contraturno. Tal é a dimensão dos negócios possíveis que “a digestão” não foi concluída ainda e a integração trazendo novos resultados não aconteceu.

Por isso, o grupo Kroton Educacional foi renomeado para Cogna e dividido em quatro empresas, visando ampliar oferta de serviços B2B para escolas e universidades. Como estratégia de gestão, esta divisão ajuda a separar os resultados negativos em números menos ruins, pois a soma dos resultados negativos integrada tem assustado os acionistas e derrubado as ações da ex-Kroton, agora Cogna, diariamente por meses.

Como mais recente movimento estratégico, está a Estácio comprando todas as marcas da Adtalem, ex-Devry, pelo valor de R$ 1,9 bilhão. Seu mais importante ativo é o IBMEC, que apresenta unidades de graduação em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Para assustar menos os alunos e os financiadores de suas formações, a Estácio também mudou sua marca para Yduqs e afirma “abrir nova fase de crescimento”.

A alteração da marca da holding tem como objetivos “dedicar recursos em negócios já existentes”; “construir posicionamentos diferentes por meio de novas marcas”; e “desenvolver novos negócios”. Esta frase deixa claro que a intenção é afastar a marca Estácio da marca IBMEC, evitando mais transferências, que se iniciaram com o anúncio de descontinuidade de atuação da Adtalem.

As mudanças dos nomes das marcas por si só não trazem mais credibilidade, confiança, valor e esquecimento da forma de gestão de negócios educacionais baseados e redução de custos. Na verdade, este reconhecimento viria por uma postura muito diferente da que é adotada, em que se cortam professores e substituem aulas presenciais por EAD, sem adequações necessárias de metodologias. Novos e especiais dias virão para o setor da educação superior, sem mágicas e sem ilusões e, com eles, a redução da evasão.

César Silva é diretor Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo – FATEC-SP há mais de 30 anos. Foi vice-diretor superintendente do Centro Paula Souza. É formado em Administração de Empresas, com especialização em Gestão de Projetos, Processos Organizacionais e Sistemas de Informação.

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