Arie Halpern: a linha tênue entre a produtividade e a vigilância

14/5/2020 – A tecnologia de monitoramento levanta uma série de questões sobre privacidade.

Monitoramento do trabalho remoto: motivação ou vigilância?

Entre os diversos outros aspectos de nossas vidas que estão sendo alterados pela pandemia da Covid-19, está o trabalho remoto. Embora esse seja um tema que esteja em pauta já há alguns anos e muitas empresas, especialmente as que surgiram na era digital, o tenham incluído em suas práticas e políticas, o home-office estava longe de ser a regra. Até que a necessidade de distanciamento social forçou milhões de pessoas no mundo a trabalhar remotamente. Segundo uma pesquisa do MIT, a quantidade de pessoas que passaram a trabalhar em casa, em março, nos Estados Unidos, aumentou 34%.

Resolvidos os aspectos relacionados à tecnologia e passado o feito da novidade, surgem questões práticas e culturais. Apesar da quase unanimidade em torno do ganho de produtividade, atestados por pesquisas como uma recente realizada pelo LinkedIn e USA Today que constatou aumento de mais de 50%, persiste uma espécie de viés inconsciente em relação ao trabalho remoto. Há uma desconfiança de que longe dos “olhos do dono” (ou do chefe), os profissionais não cumpram sua jornada de trabalho.

Aumento na demanda por softwares de monitoramento

Com milhares de pessoas trabalhando em casa, muitas empresas estão buscando maneiras para se certificar de que seu pessoal está fazendo o que precisa ser feito, ou seja, fazendo seu trabalho. A demanda por softwares que monitoram a atividade de funcionários por meio da verificação de digitação, fotos feitas com a câmera do notebook e o tempo despendido em programas como Word ou Excel, e em páginas de sites ou mídias sociais, aumentou significativamente.

Alguns argumentam que é uma forma de manter a motivação e a produtividade de suas equipes, evitando que o isolamento do trabalho remoto afete o ânimo das pessoas. Nessa perspectiva, surgiram softwares que recriam virtualmente o ambiente de um escritório, nos quais as pessoas podem exibir uma porta fechada, caso estejam ocupadas. Mas que também permitem que um chefe ou colega fale com o outro a qualquer momento, sem aviso prévio ou necessidade de chamada, o que pressupõe que todos tenham de estar a postos permanentemente, com câmeras e microfones ativados.

Para outros, o monitoramento dilui a fronteira entre trabalho e vida pessoal e saber que sua atividade está sob escrutínio permanente é motivo de ansiedade e estresse.

A tecnologia de monitoramento levanta uma série de questões sobre privacidade. Há uma linha tênue entre a preocupação em manter a produtividade e a “vigilância” excessiva ou intrusiva. E, provavelmente, somente a prática e o tempo nos levarão a estabelecer os limites de cada lado.

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