27/11/2019 – Um Brexit sem acordo entre as partes poderia colocar em risco essa situação.
Os últimos dias têm sido decisivos para que a comunidade internacional tenha uma ideia mais clara das condições nas quais o Reino Unido deixará de pertencer à União Europeia, num processo que ficou conhecido como “Brexit”. Em meio a uma disputa política indefinida, o primeiro ministro Boris Jonhson reafirmou que o país sairia de qualquer maneira no dia 31 de outubro, mas o Parlamento Europeu já sinalizou um adiamento até 31 de janeiro.
Essa situação indefinida tem deixado a comunidade científica apreensiva. A principal questão a ser respondida refere-se à participação dos britânicos em projetos de pesquisa estratégicos organizados pela União Europeia, que nas últimas décadas vem sendo o maior vetor de impulsionamento da pesquisa no bloco. Quando falamos do Reino Unido, é preciso lembrar que nos referimos a uma potência em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Das dez mais importantes universidades do mundo, quatro ficam nas terras da rainha Elizabeth II. Oxford é a quarta no ranking global, Cambridge a sétima, College University de Londres a oitava e Imperial College a nona. Além da pesquisa universitária, o país está muito bem situado em relação à inovação empresarial a esta associada, ocupando hoje a quinta posição global, atrás de Suíça, Suécia, Estados Unidos e Holanda, segundo recente pesquisa da Universidade de Cornell.
Um Brexit sem acordo entre as partes poderia colocar em risco essa situação. Há cerca de semana, em 17 de outubro, a diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Kristalina Georgieva, afirmou que se isso de fato ocorrer, o impacto econômico poderá ser trágico, algo entre 3,5% a 5% do PIB do Reino Unido, e atingir em até 0,5% a economia da União Europeia. Mas, para além do aspecto econômico, ninguém sabe qual será a posição do Reino Unido em relação a um fundo de nada menos do que 100 bilhões de Euros, algo perto de meio trilhão de reais destinado para pesquisa científica num projeto chamado Horizon Europe. Esse dinheiro, destinado a projetos de cooperação entre os países do bloco, tem como objetivo proporcionar um novo salto de desenvolvimento da ciência europeia para fazer frente a seus concorrentes asiáticos e norte-americanos.
Sem dúvida, essa é uma situação preocupante para todas as partes envolvidas, e que poderia representar um revés significativo para um país que tem em sua história Francis Bacon, o formulador do conceito de ciência, Isaac Newton, criador da física moderna, Charles Darwin, proponente da teoria da evolução, Alan Turing, pai dos computadores, e Stephen Hawking, maior cosmólogo do nosso tempo. Resta acompanhar os desdobramentos políticos do Brexit e torcer por uma solução a esse impasse que permita à ciência britânica permanecer legando ao mundo tantas descobertas e resultados espetaculares.