28/5/2020 –
Especialistas chineses e europeus concluíram que o novo coronavírus reduz a capacidade da hemoglobina transportar oxigênio, resultando em lesões pulmonares e falta de ar
A Pandemia do novo coronavírus surpreendeu e lançou um enorme desafio para a ciência: encontrar um tratamento para conter o avanço brutal do vírus. Diversos aspectos vêm sendo analisados diariamente na tentativa de conhecer melhor a doença, reduzindo o número e a gravidade de pacientes infectados. Um estudo preliminar realizado por pesquisadores chineses revelou indícios de que a covid-19 pode agir diretamente na hemoglobina, proteína do sangue responsável pelo transporte do oxigênio no organismo, o que explica a falta de ar, sintoma comum entre as pessoas com quadros mais graves da doença.
Ainda que a pesquisa possa ajudar a definir um tratamento mais eficaz, a hematologista Dr.ª Indianara Brandão ressalta que é preciso cautela, pois ainda não temos evidências científicas suficientes para afirmar que a infecção pela COVID-19 seja uma doença especificamente hematológica com complicações pulmonares. Para a especialista “a cada dia surgem diferentes apontamentos sobre os aspectos da doença e à medida que aparecem novos relatos, com aspectos ainda desconhecidos, surgem também diferentes frentes de estudo”.
Os casos analisados pelos médicos chineses indicam que o vírus remove íons de ferro dos glóbulos vermelhos e os substitui, o que reduz a capacidade da hemoglobina de transportar oxigênio, ocasionando danos às células pulmonares, gerando imagens semelhantes a um “vidro fosco”. Essa redução do trabalho da Hemoglobina, segundo o estudo, acaba causando inflamação pulmonar e falência de outros órgãos, podendo levar à morte.
Diferentes estudos neste sentido já vinham apontando altos níveis de ferritina em pacientes infectados em quadros graves pela covid-19. “Isso acontece pelo fato de a ferritina ser uma proteína de fase aguda, que aumenta em situações de inflamação e infecção”, acrescenta a Dr.ª Indianara. A Ferritina é uma proteína liberada quando o organismo detecta excesso de ferro no sangue. “A partícula serve como depósito de ferro para absorver a substância excedente e evitar a sobrecarga no organismo. É preciso avaliar também os níveis de transferrina, que se une aos átomos de ferro livre”, completa.
Outras descobertas sobre a Covid-19 e o sangue:
Tromboses: Em outra linha de frente, estudos têm demonstrado que muitos pacientes graves apresentam microtrombos, pequenos coágulos sanguíneos formados em veias e artérias, que podem estar diretamente relacionado à gravidade e letalidade da doença. Uma das pesquisas, publicada na revista Trombosis Research, revelou que 31% de 184 pacientes internados pelo novo coronavírus com pneumonia tinham sangue coagulado de forma anormal, um percentual que os cientistas consideraram “extraordinariamente alto” se comparado com internações por outras causas.
Outro estudo semelhante, publicado na Revista The Lancet, avaliou 183 pacientes confirmados com o novo coronavírus em hospitais chineses. Os cientistas analisaram o sistema de coagulação desses voluntários, e identificaram que o grau de ativação dos D-dímeros, fragmentos de proteína resultantes do processo de coagulação sanguínea, era muito mais alto nos pacientes que não sobreviveram. Além disso, em 71% dos que morreram, foram encontrados coágulos.
Fator RH: Questões referentes ao fator sanguíneo também vêm sendo observadas, uma pesquisa conduzida por especialistas chineses indica que pessoas com tipo sanguíneo A são mais suscetíveis à infecção pelo novo coronavírus e apresentam mais risco de morte, enquanto pessoas do tipo O correm menos risco de contrair a doença. O método utilizado pelos pesquisadores de cinco universidades chinesas comparou a distribuição dos tipos sanguíneos entre a população das regiões de Wuhan e Shenzen, com a distribuição por tipo sanguíneo entre 2.173 pessoas.
Letalidade Homens x Mulheres: Dados coletados em diferentes países apontam que a taxa de letalidade do novo coronavírus é mais alta em homens do que mulheres. A mesma tendência já havia sido observada em outras epidemias de coronavírus, como a de SARS e MERS. Uma recente pesquisa mostrou que homens têm maior concentração de plasma sanguíneo de uma enzima utilizada pelo vírus para entrar nas células do corpo, indicando que esta pode ser uma das explicações para o fenômeno. Apesar das novas descobertas acerca da doença, é importante ressaltar que os principais fatores de risco para a covid-19 são a idade, obesidade e outras comorbidades como hipertensão, diabetes e doenças respiratórias.