Trabalho em silos está entre atividades mais fatais do Brasil

Brasil 13/12/2019 – É fundamental que ao decidir entrar no silo por qualquer situação, todos os riscos sejam avaliados e mitigados. Podemos resumir a verificação em três etapas.

Há pouco mais de um ano, a BBC News Brasil divulgou uma matéria chocante a respeito do crescente e alarmante aumento do número de mortes em silos agrícolas. De acordo com a reportagem, o trabalho em silos está entre as “atividades com mais acidentes fatais no país”, com 24 mortes somente em 2017.

Com a safra de grãos batendo recordes consecutivo de produção – de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) a safra 2019/2020 deve chegar a 245,8 milhões de toneladas, ou seja, 3,9 milhões de toneladas a mais em relação à safra 2018/2019 – é natural que a quantidade de silos para armazenamento aumentem no campo, potencializando o risco desses acidentes fatais.

A própria matéria destaca que esse tipo de ocorrência poderia ser evitada, caso as medidas de prevenção fossem adotadas de maneira adequada. Christian Camara, diretor executivo da Dois Dez Industrial, empresa especialista em prevenção de acidentes em altura, elenca as principais características a serem observadas para evitar esses acidentes.

Análise de risco em primeiro lugar
Quem conhece o dia a dia no campo sabe que entrar nos silos para desobstruir dutos, ou os grãos que podem ter se prendido a uma parede é atividade rotineira. Quanto mais experiente nesse tipo de manobra, maior a tendência do profissional desprezar o risco, e é exatamente por isso que os acidentes acontecem.

A análise de risco para entrada em um silo não deve ser realizada somente para momentos de manutenção, limpeza, ou qualquer outro tipo de parada técnica programada. É fundamental que ao decidir entrar no silo por qualquer situação, todos os riscos sejam avaliados e mitigados. Pode-se resumir a verificação em três etapas:

1. Verificar a qualidade do grão: Quando úmidos, ou apodrecendo, tendem a se unir formando conglomerados que chamamos de pontes, pois criam uma massa rígida e logo abaixo uma bolha vazia. Podem também travar nas paredes do silo. A qualidade do grão está ligada ao monitoramento. Mesmo após a análise de risco, que determina se o grão está saudável e o risco é pequeno, será preciso se precaver com as demais etapas;

2. Isolamento elétrico: É fundamental se certificar que o silo e todos seus equipamentos estejam isolados de suas fontes de energia para não ocorrer a ativação acidental de qualquer mecanismo, durante todo o procedimento, até a saída da equipe de dentro do silo;

3. Treinamento da equipe: Antes de entrar, os profissionais devem conhecer os riscos, as manobras que devem ser feitas para evitar acidentes, e também aquelas capazes de aumentar as chances de resgate, como por exemplo cruzar os braços, caso seja sugado, para garantir mais facilidade de respiração devido a pressão que o grão irá exercer na vítima.

Tipos de acidentes comuns em silos:
• PONTE: Quando os grãos se unem formando uma parte rígida e abaixo uma bolha (sem grãos) no centro do silo. Ao caminhar por essa superfície, o profissional cai dentro dessa bolha e é soterrado pelos grãos;
• QUEDA DE PAREDE LATERAL: Ao soltar grãos que tenham se prendido às paredes, o material pode deslizar e soterrar os operadores.
• SUCÇÃO: quando o equipamento é ligado com o operador dentro do silo, sugando o operador para dentro do grão; também chamado de engolfamento;

Como se precaver?
Ao entrarem nos silos os profissionais devem estar equipados com cintos, trava-quedas e cordas, fixados a um ponto de ancoragem de acordo com as normativas. O uso de Trava-Quedas retráteis é impróprio já que em casos de engolfamento, não há velocidade de queda suficiente para ativar o mecanismo de trava do equipamento. O indicado é o uso de corda e trava-quedas deslizante, fixados a um dispositivo de ancoragem adequado acima do trabalhador e que seja fabricado e instalado conforme as diretrizes da NBR 16325 e o Anexo II da NR-35. Este dispositivo de ancoragem pode ser um ponto de ancoragem comum tipo A, uma linha de vida ou um trilho rígido. Tudo depende do diâmetro do silo e tipo de estrutura. A ancoragem do operador também pode ser redirecionada para o alçapão de entrada do silo, onde um segundo operador pode controlar o acesso e movimentação do primeiro e até efetuar um resgate em caso de queda ou engolfamento.

Como socorrer – método de resgate
O ideal é que cada silo conte com um sistema de polias pré-instalado, para que as equipes trabalhem ancoradas e prontas para serem içadas se necessário. Em caso de acidentes, onde o operador já esteja soterrado acima da cintura, podem ser montadas chapas de proteção ao redor desse colaborador para isolar a pressão dos grãos do entorno e assim começar o resgate, retirando os grãos que impedem sua respiração. Essa retirada de grãos deve prosseguir até que o nível de material atinja uma altura adequada para o içamento, lembrando que a pressão no operador pode ser considerável e é necessário controlar a força aplicada no içamento para não ferir o colaborador que ainda esteja preso.

*Christian Camara
Diretor executivo da empresa Dois Dez Industrial. Profissional de acesso por corda N3, Instrutor de acesso por corda e resgate em altura. Examinador, consultor de acesso por corda e um dos autores do manual de acesso por corda pela Abendi. Técnico Rigger pela NSL/EAL-UK, especializado em montagem e remoção de plataformas de petróleo. Certificação em técnicas de segurança do trabalho pela EVOLVE e IOSH – UK. Certificado em processos de Análise Preliminar de Riscos pela Shell/Vocam. Primeiros Socorros avançado pela BP, NOGEPA e UKOOA. Auditor Interno ISO-RAC.

Website: http://www.doisdez.com.br

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