Pandemia da Covid-19 cria novos desafios para o acolhimento e interiorização de venezuelanos

25/6/2020 – “Com a pandemia, esse trabalho se tornou mais complexo. A paralisação da economia causou demissões em massa em todo o Brasil, atingindo também os imigrantes.”

O Brasil tem o maior número de refugiados venezuelanos reconhecidos na América Latina. Desde 2017, o país já recebeu mais de 250 mil pessoas vindas da Venezuela e foram concedidos 123.507 vistos temporários de refúgio e residência, segundo dados do Governo Federal, informados na Plataforma de Coordenação para refugiados e migrantes da Venezuela – R4V, em novembro de 2019.

A falta de estrutura para comportar tamanho contingente criou graves problemas na região de fronteira, especialmente em Roraima. Diante da calamidade social, diversas entidades se uniram ao Governo Federal e a Organização das Nações Unidas (ONU) para dar suporte na recepção dos venezuelanos.

A Aldeias Infantis SOS Brasil foi uma dessas parceiras. Em conjunto com o Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) desde 2018, a organização desenvolve, por meio de seu Programa de Emergência, o Brasil Sem Fronteiras. O projeto foca, principalmente, no acolhimento e assistência às famílias venezuelanas com crianças e adolescentes, famílias monoparentais – principalmente chefiadas por mulheres – e mulheres sozinhas.

No último sábado – 20 de junho – foi celebrado o Dia Mundial dos Refugiados, uma data para conscientizar a todos sobre a situação dessas milhares de pessoas que buscam em outros países um recomeço para suas vidas. A data também lembra como, na maior parte dos casos, elas precisam enfrentar preconceitos e dificuldades para se estabelecerem. O apoio de instituições que auxiliem nessa transição é fundamental para a adaptação dos imigrantes.

Atualmente, a Aldeias Infantis presta assistência para mais de 70 famílias, somando 260 pessoas. Em dois anos de parceria, o programa já atendeu mais de 2 mil pessoas. “Com a pandemia, esse trabalho se tornou ainda mais complexo. A paralisação da economia causou uma onda de demissões em massa em todo o Brasil, atingindo também os imigrantes. Um dos desafios foi inserir essa população nos programas de ajuda e renda oferecidos pelo governo federal”, comenta Sergio Marques, sub gestor nacional da Aldeias Infantis SOS Brasil. Apesar dos refugiados terem direito aos benefícios, o apoio da organização é importante para romper as barreiras da língua e da burocracia.

Foi realizado, ainda, um trabalho de conscientização e orientação dessas famílias sobre a questão do isolamento social, do uso de equipamentos de proteção individual, cuidados com a higiene e todas as informações referentes ao coronavírus.

As operações de interiorização também precisaram ser reestruturadas para evitar que pessoas vindas de outras regiões transmitissem o vírus àqueles que já estavam em quarentena. Diante dessa problemática, a Aldeias Infantis montou estruturas para que, todos que chegassem, pudessem passar um período em observação para evitar a disseminação da doença.

“Outra questão importante foi a suspensão das aulas. Tivemos que oferecer diversas novas atividades para que as crianças e adolescentes não ficassem ociosos. Agora temos um desafio ainda maior, que é disponibilizar internet e computadores para que todas as famílias possam acompanhar as aulas online”, afirma Sérgio.

Após a acolhida, a Aldeias Infantis faz um diagnóstico inicial de todas as famílias, identificando as competências e habilidades de cada membro. Em seguida, inicia um trabalho de desenvolvimento individual e familiar, por meio de projetos de educação, saúde, cultura, empregabilidade e geração de renda.

Além de prover a moradia, a organização também auxilia na inserção dos venezuelanos nos serviços públicos dos estados e municípios, como programas de desenvolvimento social, encaminhamento das crianças e adolescentes para as escolas, cursos de capacitação profissional e dá toda a atenção necessária para as famílias atingirem a independência e autonomia.

Normalmente, esse processo de acolhimento acontece em três meses. Com a nova realidade, esse prazo foi estendido, e cada família passa por uma avaliação criteriosa para garantir que tenham o tempo necessário para conquistar sua autonomia sem correr riscos.

“Todas as famílias refugiadas estão recebendo atendimento médico pelo SUS, estão cadastradas nos postos de atendimento e são acompanhados pela rede de saúde. Nenhum caso foi paralisado, apesar da pandemia”, explica Marques.

Mesmo depois das famílias deixarem o programa, a Aldeias Infantis mantém contato direto para garantir o seu bem-estar, trabalho que foi reforçado durante a pandemia. “Há um acompanhamento daqueles que não estão mais abrigados. Oferecemos cestas básicas e visitas das nossas equipes técnicas quando necessário”, completa o sub gestor nacional.

Com o apoio da ACNUR, a instituição mantém centros de acolhida em nove estados: São Paulo (São Paulo), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro), Distrito Federal (Brasília), Pernambuco (Igarassu), Paraíba (João Pessoa), Rio Grande do Norte (Caicó), Rio Grande do Sul (Porto Alegre), Paraná (Goioerê) e Minas Gerais (Juiz de Fora).

Website: https://www.aldeiasinfantis.org.br/

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